1) Novos políticos
O novo presidente chinês, Xi Jinping, veio substituir o anterior (Hu Jintao) em Março passado. Ao mesmo tempo, Li Keqiang substituiu o anterior Primeiro-Ministro (Wen Jiabao). Xi e Li são agora uma nova geração política a liderar a China, na sequência de uma reorganização do comité político em Novembro de 2012. O chamado “politburo standing committee” do Partido Comunista Chinês vai ter maior autoridade nas decisões do que o Governo Central, mas os membros do Gabinete (State Council) terão um papel importante, em termos do dia-a-dia da administração. As hipóteses de reformas substanciais no sistema político do país no período 2013-2017 são reduzidas. A posição do “politburo” é conservadora e os recentes movimentos conhecidos em relação ao controlo sobre os “media” são aparentemente sintomáticos. Serão enfrentadas tensões políticas e sociais nos próximos anos, mas tudo indica que o Partido terá o controlo firme no período 2013-2017, segundo a “Economist Intelligence Unit” (EIU).
2) Importância da China
República Popular da China diz-se na língua chinesa “Zhonghuá rénmín gònghéquó zhongguó”, o que, sendo embora complicado em termos ocidentais, começa a ser mencionado mais frequentemente do que há uns anos atrás. Porquê? Obviamente (um dos motivos) porque o PIB chinês (total, não o per capita) passou a ocupar um lugar cimeiro a nível mundial (o segundo). A importância da China para o Ocidente não é de agora, naturalmente, mas as razões dessa importância começam, ou começaram já há tempos, a ser mais profundas e mais complexas. Mas não é isto que vou analisar; este tema merece análise por alguém mais especializado. O que eu vou tratar é de saber se vale ou não a pena pensar na China, a curto prazo (digamos um ou dois anos) como mercado potencial para as exportações portuguesas. E a resposta não é fácil!
Sabe-se que, na segunda metade do século XX, a China começou a interessar as grandes empresas do Ocidente que viram no país de 1,3 mil milhões de habitantes um enorme mercado consumidor para as várias indústrias de bens de consumo corrente e duradouro e bens de capital. Assim foi que as multinacionais norte-americanas iniciaram os seus investimentos directos para comercializar as suas marcas globais (a globalização estava no início) com as necessárias adaptações ao mercado local. Mas a China, através do controlo do Estado sobre a economia, manteve durante anos a fixação dos preços na produção de certos bens, considerados essenciais, e nas décadas de 70 e 80 existiam enormes subsídios na formação desses preços, com a agravante de promover a incoerência entre a oferta e a procura. Com a integração da China na economia internacional e com o desejo das autoridades em incentivar o crescimento do país, esses subsídios foram aumentando, o que agravou o problema cada vez mais. Finalmente, no início da década de 90, esses subsídios começaram a ser eliminados, sobretudo com a admissão do país à Organização Mundial de Comércio em 2001, que o obrigou a uma maior liberalização económica e menor regulação dos mercados. A transformação da China teve grande impacto no seu mercado interno, bem como nos mercados externos e as reformas nas últimas três décadas têm conduzido o país a enormes mudanças a nível de iniciativas individuais e empreendedorismo, apesar do domínio do Estado na economia.
3) China nos próximos anos
Com o novo Presidente Xi, segundo os seus comentários (analisados pela EIU), tudo indica que a política externa da China deve continuar com a abordagem dos últimos anos em relação ao estatuto adquirido nos mercados globais. Provavelmente, o país envolver-se-á em várias disputas com países vizinhos no período 2013-2017, no que respeita aos seus projectos na capacidade energética. A tendência do governo para adoptar uma abordagem de força nessas disputas terá como consequência os países vizinhos procurarem fortalecer os laços com os EUA. A fraqueza do Ministério dos Negócios Estrangeiros (segundo a EIU), como força na política interna, aumentará o risco de a política externa se desajustar.
Em relação à política económica, o governo tenderá a tornar a economia menos dependente do investimento para o crescimento nos próximos anos. Assim, para o consumo impulsionar a economia no período 2013-2017, o governo tentará aumentar os rendimentos das classes menos favorecidas, através de uma reforma fiscal redistributiva e outras medidas. Para crescer a médio prazo, dado que haverá uma pressão para aumento dos salários (que tem o risco de reduzir a grande vantagem que a China usufrui nos mercados internacionais), será provável que se adoptem medidas para a economia subir na cadeia de valor, movimentando-se para indústrias com maior valor acrescentado (de mais elevada tecnologia) e um sector de serviços competitivo. Estas deverão ser as prioridades chinesas para o período 2013-2017.
O crescimento económico no primeiro trimestre de 2013 foi de 7,7%, um pouco inferior ao do último de 2012, que subiu a 7,9%. Segundo a EIU perdeu-se o “momentum “ do final do ano anterior, mas o crescimento em 2013 deverá ser de 7,8% (contra os mesmos 7,8% em 2012, em termos anuais). Prevê-se (EIU) que haja uma ligeira redução do ritmo de crescimento nos próximos anos, dado que a taxa prevista para 2017 é de 6,3%. Isto reflecte em parte o crescimento mais lento do investimento, porque os custos mais altos que esses investimentos envolvem têm um efeito dissuasor. Não é grande o optimismo da EIU sobre as perspectivas da China a longo prazo, porque as autoridades provavelmente não serão capazes de prosseguir uma política que vá apoiar efectivamente o crescimento da produtividade. A instabilidade política e problemas no sector imobiliário deverão ser as fontes prováveis do previsível abrandamento. Apesar de tudo, a expansão das exportações continuará a bom ritmo, devido sobretudo à procura dos mercados emergentes, pese embora o impacto negativo nas vendas ao exterior em virtude da apreciação do Renminbi e do aumento de custos na China. Um aspecto importante na economia chinesa é que haverá um rápido incremento da procura interna que fará o ritmo de crescimento das importações ultrapassar o das exportações. Ao longo do período 2013-2017, a taxa de crescimento das importações será cerca de um a dois dígitos superior à das exportações (previsões para 2013: tc exportações 9,0% e tc importações 10,0%; previsões 2017: tc exportações 6,4% e tc importações 8,7%). Isto é o mais interessante de salientar, do ponto de vista das empresas portuguesas exportadoras.
4) Potencial do mercado chinês para Portugal
Para relacionar estas previsões com o potencial do mercado chinês para produtos importados da Europa, vou analisar o passado recente no que se refere às compras da China ao Mundo e, de preferência, à Europa. A China encontra-se em 2º lugar no ranking dos países maiores importadores (como exportador tem o 1º lugar). Tornou-se indubitavelmente um local que nenhuma empresa pode ignorar como seu futuro cliente: poderá não ser dentro de um ou dois anos, mas será dentro de cinco ou dez. A União Europeia (a 27) exporta para a China um montante que representa 12,1% (2012) das importações totais chinesas. Actualmente os maiores fornecedores da China são, por ordem decrescente, Japão e Coreia do Sul (estes dois estão próximos geograficamente). O 3º fornecedor são os EUA, seguindo-se Taiwan. Seguem-se depois Alemanha, Austrália, Malásia, Arábia Saudita, Brasil e Rússia. Os outros países europeus não se encontram entre os primeiríssimos lugares como fornecedores, mas são a Alemanha (já referido), França, Reino Unido, Itália, Bélgica, Países Baixos. Como fornecedor da China, Portugal representa muito pouco (apenas 0,08%, ficando no 69º lugar), mas o nosso país exportou, de facto, para a China cerca de 779 milhões de euros (2012), o que correspondeu a 1,7% das exportações portuguesas e a China foi o nosso 10º cliente. Mas ao considerar a evolução nos últimos cinco anos, o acréscimo foi enorme: o crescimento médio anual foi de 48,0% (2008-2012) e a variação homóloga 2011-2012 foi de 96,3%. Do mesmo modo, em 2008 o peso da China como nosso cliente era de apenas 0,47% (estava na 28ª posição) e em 2012 já tinha atingido 1,72% (10º lugar como acima indiquei), tendo ultrapassado o cliente Brasil. A conclusão é que o mercado chinês está a ganhar alguma dimensão para Portugal. Quanto ao número de empresas que exportaram para lá, esse número também tem interesse registar, embora não seja impressionante: em 2007 foram 701 empresas e em 2011 o número subiu para 912 empresas. Trata-se da evolução de um mercado que há uns anos atrás praticamente não existia para as empresas portuguesas.
Mais acima neste texto afirmei que o potencial do mercado chinês para Portugal é difícil de avaliar, mas (para não fugir à pergunta) posso dizer que a resposta no essencial é que o potencial existe, mas tem que ser avaliado de sector para sector. A curto prazo, o mais fácil é avaliar pelas importações habituais da China, sobretudo as originárias na Europa. As importações principais da China do Mundo, por grupos de produtos, foram em 2012: máquinas e equipamentos eléctricos (21,0%); combustíveis e óleos minerais (17,2%); máquinas e equipamentos mecânicos (10,0%); minérios (7,4%); instrumentos e óptica e precisão (5,9%).
As principais compras da China a Portugal, por grupos de produtos (2012) foram: veículos (53,0%); minerais e minérios (15,8%); máquinas e aparelhos (6,4%); pastas celulósicas e papel (5,3%); metais comuns (4,3%); matérias têxteis (3,7%); madeira e cortiça (3,2%); plásticos e borracha (2,5%); alimentares (1,5%); químicos (1,1%). Ora estes produtos fazem parte do actual perfil das exportações portuguesas, pelo que é óbvio que as empresas que se encontram a exportar e na pesquisa de novos mercados, acabem por considerar a China uma boa alternativa de diversificação, face a uma Europa em crise.
5) É difícil exportar para a China?
Parece que sim! Mas na prática exporta-se para a China como para qualquer país do Mundo. A muito conhecida Agência portuguesa AICEP tem um documento na Internet muito interessante intitulado “Mercados - Dicas Internacionalização”. No que respeita à China, as Dicas são extensas e o documento começa por apresentar os pontos fortes e as fraquezas do mercado. Um dos aspectos (considerado ponto fraco para quem exporta para a China) é a imposição de margens elevadas por parte dos importadores/distribuidores chineses. Outro aspecto importante é o facto de os negócios com a China terem retorno difícil a curto prazo. Outro, não menos importante, é a dificuldade da língua, pois a aprendizagem do inglês é ainda pouco frequente. Assim, uma das Dicas (estas encontram-se na página final do referido documento) é considerar crucial a aprendizagem do Mandarim. Mas as Dicas são em número de 21, pelo que é interessante conhecer as Dicas da AICEP.
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