quinta-feira, 24 de outubro de 2013

PME - Exportar para os EUA obviamente não depende só dos bons produtos

Comportamento da Economia Norte-americana


A economia dos EUA no final de 2013 está a ser influenciada pela primeira metade do ano. A situação económica comportou-se relativamente bem face à restrição fiscal do início do ano, uma vez que o sector privado revelou-se dinâmico. Por seu lado, os consumidores optaram por diminuir as poupanças, a fim de conseguirem manter o seu poder de compra. Assim, as previsões dos principais analistas vão no sentido de o consumo privado crescer 1,9% em 2013 e um pouco mais em 2014. O crescimento do PIB deverá ser de 1,6%, muito abaixo dos 2,8% de 2012, mas houve um progresso ao longo de 2013, que irá continuar em 2014, ano em que a previsão para o incremento do PIB é de 2,6%. No entanto, uma provável restrição monetária em 2014 fará reduzir o crescimento nos dois anos seguintes.


Ambiente Político


Importante é salientar que o comportamento económico irá ser condicionado pela cena política, que continua marcada pela grande diferença ideológica entre Democratas e Republicanos, a qual se manifesta na divisão do Congresso. Isto torna difíceis os compromissos políticos e muito complicada a passagem de legislação no Congresso em aspectos de grande importância  para o país. Um obstáculo é que a maioria republicana continua a ser fortemente influenciada pelos republicanos ultra-conservadores ligados ao movimento anti-governamental “Tea Party”. De facto, os republicanos estão divididos entre os membros do “Tea Party” e a ala mais moderada do Partido, liderada por John Boehner, o “Speaker” na Câmara dos Representantes. Recentemente, no contexto das negociações para o Orçamento de 2014 (este teve início a 1 de Outubro), a Administração Obama acabou por iniciar o processo de suspensão dos serviços públicos federais não essenciais, o que aconteceu pela primeira vez em 17 anos. A decisão da Casa Branca foi tomada pouco antes da meia noite de 30 de Setembro, que era o limite para que o Congresso acordasse numa resolução para a continuação do financiamento da Administração Federal, que entrou em novo ano fiscal a 1 de Outubro. Os republicanos na Câmara dos Representantes, onde detêm a maioria, continuaram a bloquear as negociações, exigindo o adiamento por um ano da lei de cuidados de saúde, conhecida como Obamacare.


Novo Paradigma no Marketing


Para além deste ambiente, o final de 2013 enfrenta desafios, que já não são nada novos mas que muitas PME portuguesas ainda não estão preparadas para reagir com prontidão. Trata-se obviamente da mudança de paradigma no que refere ao marketing de exportação.


Números sobre o Online


Vou apresentar alguns números para elucidar a mudança que começou e irá certamente continuar. O número de compradores digitais nos EUA, em milhões, tem progredido do seguinte modo: 2010 - 172,30 milhões; 2011 - 178,30; 2012 - 183,80; 2013 - 189,40; 2014 - 194,80; 2015 - 200,10; 2016 - 205,20; 2017 - 210,20 (Fonte: eMarketer - em 2013 são estimativas e a partir de 2014 previsões). A nível mundial, estes milhões de compradores digitais norte-americanos representam uma fatia substancial. No entanto, apesar de elevado, em relação ao mundo o mercado digital dos EUA não tem aumentado de peso, dado que outras regiões do mundo estão também a progredir a nível digital e tudo indica que este movimento alastre. Vejamos este exemplo: Percentagem do B2C e-commerce dos EUA em relação ao global: 2010 - 35,8%; 2011- 33,5%; 2012 - 31,5%; 2013 - 29,7%; 2014 - 27,8%; 2015 - 26,9%; 2016 - 26,3% (Fonte: ComScore). A percentagem é elevada, mas está a diminuir. Vejamos agora outro exemplo: Percentagem do B2C e-commerce da Ásia-Pacífico relativamente ao global: 2011 - 27,9%; 2012 - 30,5%; 2013 - 33,4%; 2014 - 36,5%; 2015 - 38,2%; 2016 - 39,7%. Pelo contrário, na  Ásia-Pacífico o peso aumenta ano a ano (a Fonte é a mesma). Quer isto dizer que as PME portuguesas, como as dos outros países Ocidentais, devem preparar-se para acompanhar este movimento, uma vez que, a médio-longo prazo ficarão fora do marketing de exportação actual.


Inbound Marketing, SMarketing, CRM, Websites na Exportação


Quando se fala de e-commerce, tem que se falar de Marketing Digital, Inbound Marketing, SMarketing (marketing em fusão com vendas), CRM, Exportar com o Website, Páginas de Aterragem, Estratégia de Conteúdos, etc.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Procurar entender os consumidores

Escrever sobre marketing para PME exportadoras é um dos meus objectivos e numa época de grandes transformações é sempre bom tentar recordar o essencial. O nosso quotidiano é composto por alegria, tristeza, ciúme, medo… Estes e outros sentimentos vividos no dia-a-dia, e as emoções, sustentam as maiores criações do espírito humano. Foi isto que eu concluí com a leitura dos três principais livros do neurocientista António Damásio. E que as pessoas  precisam ter afectos, o que é uma verdade para a qual não seria necessária a leitura dos referidos livros. Mas que os sentimentos e as emoções sustentam (repetindo-me) as maiores criações do espírito humano foi com Damásio que aprendi. Aliás, sobre um dos seus livros, o New York Times escreveu: “Damásio está na vanguarda daquilo a que os neurocientistas chamam a revolução do afecto”.

Há muitos anos (antes mesmo da era Google) que os consumidores, para certas categorias de produtos, fazem pesquisa atenta e consultam vários fabricantes, ficando a conhecer as características dos produtos tão bem ou melhor do que um vulgar vendedor. Não se torna necessário indicar as categorias de produtos onde isto acontece, porque cada um de nós, como compradores, sabe quais são (e são cada vez mais as categorias onde se faz pesquisa). Também há já muitos anos que a necessidade de demonstração ou afirmação de estatuto (muito ligada até certo ponto ao novo-riquismo e terceiro-mundismo) continua a existir mas tornou-se menos importante do que o desejo de usufruir de bem-estar e felicidade. Até já foi inventada uma medida para isto (ROH - return on hapiness). Contudo, acontece que a importância da qualidade dos produtos e da relação preço/qualidade mantém-se com o mesmo ou maior significado que tinha no passado. Do mesmo modo, mantém-se o significado do efeito da imagem de marca e constata-se a comercialialização de cada vez mais marcas, com as muito grandes sempre a querer dominar. De facto, a partir de um nome com muita notoriedade criam-se (ou lançam-se no mercado) produtos, acessórios, etc.etc, como é sabido. Isto é o que se está a fazer, mas não tenho dados para prever se isto irá continuar a ser assim.

Ora este texto introdutório destina-se a salientar a importância de entender os consumidores, quer no que respeita ao que se chama a “revolução do afecto” (acima referida), quer no que se refere ao desejo de usufruir de bem-estar. Porém, a seguir a entender os consumidores há que chegar a eles das várias formas possíveis. É aqui que desejo chamar a atenção para o evento da HubSpot no passado mês de Agosto denominado Inboud 2013 que reuniu em Boston quase 6000 profissionais, talvez a maior concentração de “marketers” alguma vez vista, o que marcou o início de uma nova era para o marketing. A consultora “Nível Horizontal”, que esteve presente através do seu consultor principal, Fernando Coimbra Lopes, salientou no seu Blog a frase do orador, Seth Godin, que fez a abertura do evento: “You don’t have a job, you have a platform to make art

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

PME - O seguro morreu de velho ou "quem quase-vive já morreu"

Há dias andei a navegar por uma das redes sociais e li conversas interessantes sobre vários ditados populares. Um deles era “O seguro morreu de velho”, em que gente muito nova não sabia bem qual o significado. Cada um disse o que pensava e afinal todos estavam de acordo: que era preciso ter cautela; à partida era bom desconfiar das situações; arriscar sem ter uma boa rede era má ideia; para chegar a velho era bom andar com cuidado; mais valia prevenir do que remediar; etc. etc. Todos os comentários estavam escritos em língua portuguesa, podiam ser de portugueses ou brasileiros, mas a linguagem coloquial parecia de portugueses. Quase no fim surgiu um comentário interessante, em português diferente, certamente de um brasileiro. Dizia ele, em síntese: “mesmo sendo um cara super-seguro (fazendo tudo com cautelas e tal), um dia também você vai morrer, pode não ser de acidente, mas será de velho senão for antes”, e tirava uma conclusão que me deu que pensar, “embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu”. O que é que isto tem a ver com as PME exportadoras? Muito! Claro que antes de tudo tem a ver com as pessoas, porque o que “ele” quis dizer com aquele “quem quase-vive já morreu” tem muito que se lhe diga e tem muita força, pensando bem!.


Vejamos então porque é que eu penso que o “quem quase-vive já morreu” pode ter a ver também com algumas PME portuguesas exportadoras. Será porque estão sempre à espreita  de apoios do Estado, ou melhor dizendo, dos Governos, de qualquer Governo? Ou será porque foram habituadas a isso? Mas noutros países do Ocidente também existem apoios às PME, então será que em Portugal os apoios são insuficientes, ou inadequados, ou com demasiada burocracia, etc? Ou será que as PME não têm capacidade para os aproveitar e fica tudo à mercê de consultoras inteligentes? Pode ser uma mistura de tudo isto, mas penso que o que importa e o que mais pesa nas empresas é a motivação e a sabedoria dos empresários, porque sabemos que existem em Portugal muitas PME exportadoras bem sucedidas.


Quando pensei e salientei (como se fosse um desafio) a expressão “quem quase-vive já morreu”, pretendi e pretendo fazer notar que, por vezes, a vida de muitas PME parece ser uma “quase-vida” pela ausência de identificação do negócio, da marca, dos objectivos, da estratégia, enfim, do seu pleno funcionamento como empresa. Pela ausência de vida dentro da empresa. A empresa física existe, tem actividade, funciona, mas “não está lá”. Isto é, não criou o seu mundo para se instalar nele e viver (sobreviver se necessário).

A este propósito, aproveito para me referir aos textos úteis que habitualmente consulto na “Nível Horizontal” e que vou passar a indicar:”Transforme a Feira num Verdadeiro Sucesso com Inboud Marketing”; Pode o Design da Homepage do Website Ajudar a Melhorar o Seu Negócio?”; “PME Usam Tecnologia Para Serem Mais Globais - Diga SMarketing”;Social Sales: Como Vender no Mar das Redes Sociais”.

domingo, 11 de agosto de 2013

Marcas na Exportação - Planear antes do Verão - Lançar no Inverno

Escrever sobre Marcas na actualidade leva-nos a pensar que já não há nada de novo a dizer. Ou, pelo contrário, haverá que pensar nas Marcas em termos de Internet e redes sociais, ou também pensar de maneira geral, global, mais inovadora? O intuito deste “post” é motivar as PME a pensar nas suas Marcas de um modo que, desde o início ou, no mínimo, a partir deste momento, lhes dê mais valor e futuros negócios.


Sabemos que, em marcas, já quase tudo foi inventado. As marcas mundiais de maior valor existem há mais de sessenta anos, têm o nome da empresa que as criou, resistem a gerações de publicitários que passaram por elas, resistem a crises económicas, políticas e sociais e os consumidores continuam a escolhê-las, associando-lhes valores como confiança e afecto. Também sabemos que nos dias de hoje praticamente tudo, incluindo política, eventos e até personalidades, é percepcionado e gerido como uma marca. As maiores empresas sabem que os principais e melhores agentes da empresa são as marcas: elas são únicas, amadas, odiadas e disputadas.


Há muitos anos que as empresas gerem as marcas, sabendo que elas preenchem não só as necessidades dos consumidores, mas também os seus desejos, preenchem por vezes um vazio que certos consumidores sentem em relação à vida, até já existem medidas para avaliar a felicidade que as marcas proporcionam ao consumidor. Estranho? Pode parecer, mas em negócios há que estar actualizado: para além do tradicional “return on investment”, passou a existir, mesmo timidamente, o “return on hapiness”.

É necessário salientar este tema, uma vez que as PME exportadoras têm que pensar nos seus mercados externos, actuais e novos, sobretudo os novos, os menos explorados e que apresentam possibilidades de crescimento nos segmentos de classes médias, podendo ser ou não mercados emergentes, mas sendo certamente externos e, principalmente, fora da Europa. Ora, essas PME têm que pensar na marca da empresa, que pode consubstanciar-se em mais de um produto. Aprender a construir marcas é o principal desafio de todos os negócios. Assim, ter pessoal especializado, conhecedor do tema é um imperativo de todo o empresário de PME, mas os próprios empresários devem conhecer o assunto de modo suficiente para avaliar as soluções que lhes forem propostas. Devem saber como avaliar o valor financeiro das marcas, o seu valor social e saber porque é que as marcas são importantes. Devem conhecer o “benchmarking” competitivo, ou seja, determinar as forças e fraquezas competitivas da marca, para obter a taxa de desconto específica da mesma, que reflecte o perfil de risco dos ganhos futuros previstos (chama-se indicador do “nível de força da marca”). Em suma, para que uma marca crie de facto valor, deve ser mais do que apenas a imagem da empresa, ou um posicionamento do produto: a estratégia da marca deve ser a estratégia da empresa. Isto é, será mais do que marketing, mais do que comunicação, mais do que eficácia, mais do que posicionamento, em conclusão, a estratégia da marca é a estratégia do negócio, como se disse atrás, é a estratégia da empresa.
 
Dado que estamos em pleno Verão, é boa altura para planear o seu negócio para o Inverno e para 2014. Muitos dos trabalhadores da sua empresa estão de férias, mas certamente o senhor empresário de PME não tem disposição para deixar de pensar totalmente no seu negócio. Enquanto descansa nalgum sítio, vai pensando. Acresce que, como estamos no tempo da Internet e das redes sociais é fácil localizar o seu negócio, nem precisa de estar no escritório. Provavelmente a sua empresa está na Web, por isso vou propor hoje que dedique algum tempo a analisar um tema: “Como Exportar e Vender Mais com o Website”. Trata-se de um “post” da consultora “Nível Horizontal” que aconselho, no sentido de vender mais no próximo Inverno e em 2014.  

sexta-feira, 14 de junho de 2013

China - Difícil exportar para lá?

1) Novos políticos
O novo presidente chinês, Xi Jinping, veio substituir o anterior (Hu Jintao) em Março passado. Ao mesmo tempo, Li Keqiang substituiu o anterior Primeiro-Ministro (Wen Jiabao). Xi e Li são agora uma nova geração política a liderar a China, na sequência de uma reorganização do comité político em Novembro de 2012. O chamado “politburo standing committee” do Partido Comunista Chinês vai ter maior autoridade nas decisões do que o Governo Central, mas os membros do Gabinete (State Council) terão um papel importante, em termos do dia-a-dia da administração. As hipóteses de reformas substanciais no sistema político do país no período 2013-2017 são reduzidas. A posição do “politburo” é conservadora e os recentes movimentos conhecidos em relação ao controlo sobre os “media” são aparentemente sintomáticos. Serão enfrentadas tensões políticas e sociais nos próximos anos, mas tudo indica que o Partido terá o controlo firme no período 2013-2017, segundo a “Economist Intelligence Unit” (EIU).


2) Importância da China
República Popular da China diz-se na língua chinesa “Zhonghuá rénmín gònghéquó zhongguó”, o que, sendo embora complicado em termos ocidentais, começa a ser mencionado mais frequentemente do que há uns anos atrás. Porquê? Obviamente (um dos motivos) porque o PIB chinês (total, não o per capita) passou a ocupar um lugar cimeiro a nível mundial (o segundo). A importância da China para o Ocidente não é de agora, naturalmente, mas as razões dessa importância começam, ou começaram já há tempos, a ser mais profundas e mais complexas. Mas não é isto que vou analisar; este tema merece análise por alguém mais especializado. O que eu vou tratar é de saber se vale ou não a pena pensar na China, a curto prazo (digamos um ou dois anos) como mercado potencial para as exportações portuguesas. E a resposta não é fácil!


Sabe-se que, na segunda metade do século XX, a China começou a interessar as grandes empresas do Ocidente que viram no país de 1,3 mil milhões de habitantes um enorme mercado consumidor para as várias indústrias de bens de consumo corrente e duradouro e bens de capital. Assim foi que as multinacionais norte-americanas iniciaram os seus investimentos directos para comercializar as suas marcas globais (a globalização estava no início) com as necessárias adaptações ao mercado local. Mas a China, através do controlo do Estado sobre a economia, manteve durante anos a fixação dos preços na produção de certos bens, considerados essenciais, e nas décadas de 70 e 80 existiam enormes subsídios na formação desses preços, com a agravante de promover a incoerência entre a oferta e a procura. Com a integração da China na economia internacional e com o desejo das autoridades em incentivar o crescimento do país, esses subsídios foram aumentando, o que agravou o problema cada vez mais. Finalmente, no início da década de 90, esses subsídios começaram a ser eliminados, sobretudo com a admissão do país à Organização Mundial de Comércio em 2001, que o obrigou a uma maior liberalização económica e menor regulação dos mercados. A transformação da China teve grande impacto no seu mercado interno, bem como nos mercados externos e as reformas nas últimas três décadas têm conduzido o país a enormes mudanças a nível de iniciativas individuais e empreendedorismo, apesar do domínio do Estado na economia.


3) China nos próximos anos
Com o novo Presidente Xi, segundo os seus comentários (analisados pela EIU), tudo indica que a política externa da China deve continuar com a abordagem dos últimos anos em relação ao estatuto adquirido nos mercados globais. Provavelmente, o país envolver-se-á em várias disputas com países vizinhos no período 2013-2017, no que respeita aos seus projectos na capacidade energética. A tendência do governo para adoptar uma abordagem de força nessas disputas terá como consequência os países vizinhos procurarem fortalecer os laços com os EUA. A fraqueza do Ministério dos Negócios Estrangeiros (segundo a EIU), como força na política interna, aumentará o risco de a política externa se desajustar.


Em relação à política económica, o governo tenderá a tornar a economia menos dependente do investimento para o crescimento nos próximos anos. Assim, para o consumo impulsionar a economia no período 2013-2017, o governo tentará aumentar os rendimentos das classes menos favorecidas, através de uma reforma fiscal redistributiva e outras medidas. Para crescer a médio prazo, dado que haverá uma pressão para aumento dos salários (que tem o risco de reduzir a grande vantagem que a China usufrui nos mercados internacionais), será provável que se adoptem medidas para a economia subir na cadeia de valor, movimentando-se para indústrias com maior valor acrescentado (de mais elevada tecnologia) e um sector de serviços competitivo. Estas deverão ser as prioridades chinesas para o período 2013-2017.


O crescimento económico no primeiro trimestre de 2013 foi de 7,7%, um pouco inferior ao do último de 2012, que subiu a 7,9%. Segundo a EIU perdeu-se o “momentum “ do final do ano anterior, mas o crescimento em 2013 deverá ser de 7,8% (contra os mesmos 7,8% em 2012, em termos anuais). Prevê-se (EIU) que haja uma ligeira redução do ritmo de crescimento nos próximos anos, dado que a taxa prevista para 2017 é de 6,3%. Isto reflecte em parte o crescimento mais lento do investimento, porque os custos mais altos que esses investimentos envolvem têm um efeito dissuasor. Não é grande o optimismo da EIU sobre as perspectivas da China a longo prazo, porque as autoridades provavelmente não serão capazes de prosseguir uma política que vá apoiar efectivamente o crescimento da produtividade. A instabilidade política e problemas no sector imobiliário deverão ser as fontes prováveis do previsível abrandamento. Apesar de tudo, a expansão das exportações continuará a bom ritmo, devido sobretudo à procura dos mercados emergentes, pese embora o impacto negativo nas vendas ao exterior em virtude da apreciação do Renminbi e do aumento de custos na China. Um aspecto importante na economia chinesa é que haverá um rápido incremento da procura interna que fará o ritmo de crescimento das importações ultrapassar o das exportações. Ao longo do período 2013-2017, a taxa de crescimento das importações será cerca de um a dois dígitos superior à das exportações (previsões para 2013: tc exportações 9,0% e tc importações 10,0%; previsões 2017: tc exportações 6,4% e tc importações 8,7%). Isto é o mais interessante de salientar, do ponto de vista das empresas portuguesas exportadoras.


4) Potencial do mercado chinês para Portugal
Para relacionar estas previsões com o potencial do mercado chinês para produtos importados da Europa, vou analisar o passado recente no que se refere às compras da China ao Mundo e, de preferência, à Europa. A China encontra-se em 2º lugar no ranking dos países maiores importadores (como exportador tem o 1º lugar). Tornou-se indubitavelmente um local que nenhuma empresa pode ignorar como seu futuro cliente: poderá não ser dentro de um ou dois anos, mas será dentro de cinco ou dez. A União Europeia (a 27) exporta para a China um montante que representa 12,1% (2012) das importações totais chinesas. Actualmente os maiores fornecedores da China são, por ordem decrescente, Japão e Coreia do Sul (estes dois estão próximos geograficamente). O 3º fornecedor são os EUA, seguindo-se Taiwan. Seguem-se depois Alemanha, Austrália, Malásia, Arábia Saudita, Brasil e Rússia. Os outros países europeus não se encontram entre os primeiríssimos lugares como fornecedores, mas são a Alemanha (já referido), França, Reino Unido, Itália, Bélgica, Países Baixos. Como fornecedor da China, Portugal representa muito pouco (apenas 0,08%, ficando no 69º lugar), mas o nosso país exportou, de facto, para a China cerca de 779 milhões de euros (2012), o que correspondeu a 1,7% das exportações portuguesas e a China foi o nosso 10º cliente. Mas ao considerar a evolução nos últimos cinco anos, o acréscimo foi enorme: o crescimento médio anual foi de 48,0% (2008-2012) e a variação homóloga 2011-2012 foi de 96,3%. Do mesmo modo, em 2008 o peso da China como nosso cliente era de apenas 0,47% (estava na 28ª posição) e em 2012 já tinha atingido 1,72% (10º lugar como acima indiquei), tendo ultrapassado o cliente Brasil. A conclusão é que o mercado chinês está a ganhar alguma dimensão para Portugal. Quanto ao número de empresas que exportaram para lá, esse número também tem interesse registar, embora não seja impressionante: em 2007 foram 701 empresas e em 2011 o número subiu para 912 empresas. Trata-se da evolução de um mercado que há uns anos atrás praticamente não existia para as empresas portuguesas.


Mais acima neste texto afirmei que o potencial do mercado chinês para Portugal é difícil de avaliar, mas (para não fugir à pergunta) posso dizer que a resposta no essencial é que o potencial existe, mas tem que ser avaliado de sector para sector. A curto prazo, o mais fácil é avaliar pelas importações habituais da China, sobretudo as originárias na Europa. As importações principais da China do Mundo, por grupos de produtos, foram em 2012: máquinas e equipamentos eléctricos (21,0%); combustíveis e óleos minerais (17,2%); máquinas e equipamentos mecânicos (10,0%); minérios (7,4%); instrumentos e óptica e precisão (5,9%).


As principais compras da China a Portugal, por grupos de produtos (2012) foram: veículos (53,0%); minerais e minérios (15,8%); máquinas e aparelhos (6,4%); pastas celulósicas e papel (5,3%); metais comuns (4,3%); matérias têxteis (3,7%); madeira e cortiça (3,2%); plásticos e borracha (2,5%); alimentares (1,5%); químicos (1,1%). Ora estes produtos fazem parte do actual perfil das exportações portuguesas, pelo que é óbvio que as empresas que se encontram a exportar e na pesquisa de novos mercados, acabem por considerar a China uma boa alternativa de diversificação, face a uma Europa em crise.  


5) É difícil exportar para a China?
Parece que sim! Mas na prática exporta-se para a China como para qualquer país do Mundo. A muito conhecida Agência portuguesa AICEP tem um documento na Internet muito interessante intitulado “Mercados - Dicas Internacionalização”. No que respeita à China, as Dicas são extensas e o documento começa por apresentar os pontos fortes e as fraquezas do mercado. Um dos aspectos (considerado ponto fraco para quem exporta para a China) é a imposição de margens elevadas por parte dos importadores/distribuidores chineses. Outro aspecto importante é o facto de os negócios com a China terem retorno difícil a curto prazo. Outro, não menos importante, é a dificuldade da língua, pois a aprendizagem do inglês é ainda pouco frequente. Assim, uma das Dicas (estas encontram-se na página final do referido documento) é considerar crucial a aprendizagem do Mandarim. Mas as Dicas são em número de 21, pelo que é interessante conhecer as Dicas da AICEP.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O empresário de PME por vezes tem de parar pª pensar

No passado fim-de-semana li um texto de José Tolentino Mendonça, teólogo, colunista da Revista do jornal Expresso, que me fez pensar num aspecto essencial da vida, mas a que nem sempre os empresários de PME deram e/ou dão o devido valor: o tempo; o tempo que se perde; o tempo que se ganha ou pode ganhar; as pressas; a lentidão. Nos dias de hoje, estes temas são essenciais, porque a Internet e as  Redes Sociais vieram modificar as nossas vidas  e aumentar a velocidade com que circula a informação, bem como a necessidade dos empresários tomarem decisões com rapidez, mas adequadas aos novos tempos. O texto a que me refiro tem muito interesse e leva-nos a aprofundar este assunto. Com o título “A Arte da Lentidão”, o autor faz uma reflexão abrangente sobre o tema, começando por afirmar que “os nossos estilos de vida estão contaminados por uma pressão que não dominamos”, por um “não há tempo a perder” e também “queremos alcançar as metas o mais rapidamente que formos capazes”, etc. etc., acabando o autor na primeira parte do texto por considerar que “os ritmos de actividade tornam-nos impiedosamente inaturais” e que na época actual “mesmo estando lá é necessário permanecer contactável e disponível a qualquer momento”. Acrescenta que “damos por nós ofegantes” e que “deveríamos, contudo, reflectir sobre o que perdemos, sobre o que vai ficando para trás”. Tolentino Mendonça cita Milan Kundera que, num texto intitulado “A Lentidão”, escreveu “quando as coisas acontecem depressa demais, ninguém pode ter a certeza de nada, de coisa nenhuma, nem de si mesmo”. E explica, em seguida, que o grau de lentidão é directamente proporcional à intensidade da memória, enquanto o grau de velocidade é directamente proporcional à do esquecimento. Continua , afirmando que “a pressa condena-nos ao esquecimento e que passamos pelas coisas sem as habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informação que nunca chegamos a aprofundar”. Termina a parte principal do texto com a frase  “na verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver”. Vale a pena ler todo o texto para perceber quanto podemos estar encurralados.
Isto veio a propósito de tudo e de nada e principalmente de ter lido o texto atrás referido. Como pretendo escrever para Empresários de PME, sobretudo para empresas exportadoras, gostaria de começar por lembrar que no século XX, antes do grande salto tecnológico na informação e comunicação, mas já com a globalização no início (anos 50, 60 e 70), as grandes multinacionais deslocavam os seus quadros para locais retirados, em ambientes muito sossegados, num apelo à meditação, não em questões metafísicas, claro, mas sim nos negócios, designadamente no que pensavam e desejavam as pessoas (na altura meros consumidores, só mais tarde transformados em algo mais importante), e pensar nas alternativas estratégicas para os produtos/serviços, etc. Depois, muitas empresas de vários países ocidentais, e não só, começaram a adoptar o mesmo tipo de iniciativas (fins-de-semana de estudo, reuniões de “brainstorming”, etc.), e isto não era mera formação, mas sim estudo e inter-acção de ideias, com o fim de ajustarem os negócios à realidade e à evolução e perspectivas dos mercados externos. Em Portugal isto também aconteceu. Actualmente, com a Internet e as Redes Sociais, parece que tudo flui muito rapidamente e as pessoas (e os empresários também, com reflexos para as suas empresas) estão a perder de vista a necessidade daquilo que se chama “sentar para pensar”. Tudo tem de ser mediatizado e, por isso, somos levados à necessidade de os “encontros empresariais” serem menos pausados, menos profundos, mais apressados ou, no mínimo, dentro do “timing” para chegar a horas (e estar tudo pronto) no momento em que surgem os “media”, porque estes são absolutamente necessários para que a empresa exista, para que o acontecimento exista, ou seja o que for de importante exista.

Há muito tempo que alguns gestores começaram a notar este problema, que nos pode bloquear e distorcer as nossas decisões. Posto isto, para ser prática, vou acrescentar alguns exemplos de situações em que se nota que o problema está a ser bem compreendido. A consultora “Nível Horizontal” edita excelentes “posts” no seu blog sobre o marketing actual, que assume muitas formas, desde Inbound Marketing, SMarketing, etc. Uma coisa essencial que o blog destaca é a escassez de atenção, citando Herbert Simon que diz “A riqueza de informação cria pobreza de atenção”. Um dos últimos “posts” da “Nível Horizontal” intitula-se “Inbound Marketing - Como Ultrapassar a Escassez de Atenção”. Acrescenta que os consumidores já não são tão abandonados e deixados à mercê de qualquer Outbound Marketing (o oposto de Inbound Marketing) que chegue à sua inbox ou ao jornal diário; os clientes hoje têm mais opções e usam-nas. O Outbound Marketing (Marketing Tradicional) para as massas já não funciona, porque as pessoas provavelmente estão a tentar bloquear as mensagens recebidas, a evitá-las, a eliminá-las. Por isso, em vez do Outbound, o Empresário deve fazer Inbound Marketing - ajudar o seu negócio a ser encontrado - destinado a pessoas (consumidores e clientes) que já sabem alguma coisa da indústria ou do sector e estão em processo de compra (activo ou não). De facto, vê-se bem que actualmente o Marketing é, na sua essência, informação; a Internet torna fácil a pesquisa de informação e dá mais liberdade para elaborar filtros de informação; surgiu também o Marketing de Permissão, outro conceito complementar, apresentado em 2008 pelo  guru do Marketing Seth Godin; o Marketing de Permissão, sendo um pouco diferente do Inbound Marketing, ajuda a perceber porque é que o Inbound Marketing é importante. O Marketing de Permissão consiste na entrega pessoal das mensagens relevantes e antecipadas a pessoas que, de facto, as querem ter. Seth Godin chamou a este modelo “Subscrição” que, é claro, expandiu-se nos últimos anos para os “Like” e “Follow”, que todos nós conhecemos.


Finalmente, refere-se qual a diferença essencial entre Inbound Marketing e Marketing de Permissão. No modelo de Inbound Marketing o objectivo é ser pesquisável (no Google ou seja onde for). No modelo de Permissão, o cliente opta por receber alguma coisa. Actualmente os clientes fazem ambas as coisas online a toda a hora e há quem considere que as fronteiras entre os dois modelos se estão a esbater. Tudo isto, sendo até certo ponto consequência do excesso de informação e da escassez de atenção, tem também influência nas decisões dos empresários em relação ao tempo que não querem perder e o que querem ganhar, ou seja, optar entre utilizar o Outbound Marketing de massa, mais caro e onde o cliente se protege, bloqueando a recepçao de informação, ou utilizar o Inbound Marketing e o Marketing de Permissão.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Índia - Cultura diferente - País de contrastes

A Índia é o sétimo país em área geográfica e o segundo mais populoso do mundo e também a democracia mais populosa. O crescimento demográfico foi muito elevado nas últimas décadas. Tem actualmente mais de mil milhões de habitantes (1.210 milhões - estimativa 2011). País com longa história, cheia de acontecimentos importantes e variados, que lhe deu grande diversidade cultural e mesmo religiosa. Libertou-se da colonização britânica em 1947 e tornou-se gradualmente na 3ª maior economia do mundo (atrás dos EUA e China) em termos de PIB em paridade de poder de compra (ao PIB nominal tem somente a 10ª posição a nível mundial).

As grandes reformas (sobretudo as de 1991) fizeram deste país uma economia de rápido crescimento. No entanto, ainda existe muita pobreza, com tudo o que lhe está associado (analfabetismo, doença, etc.). Verificou-se também um enorme aumento da população urbana. As três principais cidades (Bombaim, Deli e Calcutá) registavam mais de 10 milhões de habitantes no princípio do século XXI, enquanto que no final da década de 2000, a população das três cidades já subira para 31 milhões. Apesar do enorme urbanismo, cerca de 70% da população ainda vive em áreas rurais.

O crescimento económico da Índia é actualmente um dos maiores do mundo, fazendo parte dos designados países emergentes BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas as infra-estruturas são ainda muito insuficientes, o país tem uma pesada burocracia, o que sufoca a economia e impede o desenvolvimento do seu potencial económico.

Sendo o crescimento muito elevado nos últimos anos, a “Economist Intelligence Unit” considera que o crescimento real do PIB (na base das despesas) desapontou em 2012/2013 (ano fiscal Abril/Março), nomeadamente devido ao abrandamento do consumo privado, mostrando as recentes vendas de veículos e vendas a retalho que o consumo privado deverá continuar fraco no resto do ano. O crescimento do consumo privado deverá desacelerar de 5,5% em 2011/2012 para 4,1% em 2012/2013. As estimativas da EIU vão no sentido de, na base das despesas, o PIB ter aumentado 3,3% em 2012/13 (ano fiscal). Mas ao custo dos factores o PIB desacelerou apenas para 5,2% em 2012/13, sendo as previsões de uma ligeira retoma para 6,5% em 2013/14 e 7,3% em 2014/15. Todavia, a EIU considera que este crescimento é muito abaixo do potencial.

As relações internacionais entre a Índia e o Paquistão registaram um ligeiro degelo no ano passado, pelos modestos progressos verificados na liberalização do movimento de pessoas e bens entre as fronteiras. No entanto, um surto de confrontos fronteiriços em Janeiro de 2013 na disputada região de Kahsmir (que quer a Índia quer o Paquistão administram em parte, mas reclamam na totalidade) sublinhou a natureza difícil do relacionamento bilateral. No período 1013/17 os problemas de política interna continuarão a preocupar os líderes dos dois países, ensombrando as perspectivas de compromissos. A Índia poderá ter um papel mais importante no Afeganistão, particularmente depois da retirada das forças internacionais deste país em 2014. O aprofundamento das ligações entre a Índia e o Afeganistão é vista por muitos paquistaneses como uma ameaça ao seu país, aumentando as possibilidades que alguns elementos no Paquistão procurem desestabilizar a Índia. Contudo, as relações indo-paquistanesas deverão continuar estáveis, em geral, sem explosões de hostilidades, nem rupturas significativas. Quanto às relações entre a Índia e a China, deverão permanecer calmas. Os laços económicos e comerciais têm-se fortalecido, mas os obstáculos permanecem à medida que as relações entre os dois maiores países da Ásia se intensificarem. Entre as fontes de tensão, contam-se a concorrência pelos recursos naturais, as tentativas para o aumento da influência estratégica nos países vizinhos e disputas fronteiriças de longo prazo. Estes aspectos poderão ensombrar as tentativas para desenvolver uma confiança mútua e expandir o comércio bilateral da Índia no período 2013/17.

No sector externo indiano, as estimativas da EIU (com base nos dados do banco central da Índia) vão no sentido de um aumento do défice da balança corrente para 4,8% do PIB em 2012, comparados com uma anterior estimativa de 4,4%, considerado o maior défice alguma vez registado. Todavia, de acordo com a mesma fonte, este défice deverá diminuir gradualmente até 2,5% do PIB em 2017, tendo em atenção que haverá um acréscimo dos excedentes na balança de serviços e transferências. A estimativa para o crescimento das importações da Índia é de 13,6% ao ano entre 2013 e 2017; para as exportações a estimativa é ainda superior, 16,8% ao ano. Contudo, dado que a base das importações é muito superior à das exportações, o défice em 2017 será mais elevado do que foi em 2012. As exportações de serviços deverão manter o seu importante papel no comércio externo indiano, uma vez que o “outsourcing” das tecnologias de informação e “business process” (terceirização de áreas de negócio) continuará a ser chamariz para as empresas do Ocidente. O défice dos rendimentos será superior ao que era anteriormente, dado que o repatriamento dos lucros das empresas estrangeiras que operam na Índia deverá aumentar. O excedente das transferências aumentará entre 2012 e 2017, tendo origem este aumento nas remessas dos indianos que trabalham no estrangeiro.

Toda esta informação, que parece excessiva, destina-se a fundamentar a motivação das empresas para encetarem negócios na Índia, porque as oportunidades existem em muitas áreas, nomeadamente para os produtos portugueses de qualidade, destinados à satisfação das necessidades crescentes de uma classe média emergente, quer no que se refere a exportações quer na internacionalização através do investimento directo. Aliás, regista-se que a Índia continua a atrair investimento estrangeiro de todo o mundo, mas este mercado está também aberto a exportações, como se pode aferir através da sua alargada base actual de importações.

sábado, 30 de março de 2013

PME - Pensar na expansão a curto, médio e longo prazo

Para as PME exportadoras em estagnação só vejo uma saída: exportar para fora da zona euro. Para onde e como? Eis a questão essencial. Pensar numa resposta única não existe! O que existe é apenas a vontade (necessidade?) de o empresário continuar a pensar em manter a actividade e o negócio. Apoios do Estado? Aproveite os que existem, sem perder muito tempo, e tenha em vista sobretudo focar o pensamento e a acção em delinear a sua estratégia, olhando sem dúvida para a concorrência, mas tentando criar ou manter (se já tem) o seu ponto de diferença. Seja no produto/marca, na distribuição, na comunicação, essa diferença tem de existir e marcar todo o seu negócio, ou seja, quase redudância, tem que se manter focado na estratégia que deve ser global. A globalização veio para ficar e o empresário de PME tem que aprender a lidar com ela e daí tirar vantagens. Não pensar só em lucros a curto prazo (possivelmente tem poucos lucros neste momento), pensar na sua actividade a médio e, se tiver visão de futuro, a longo prazo. Não há respostas iguais, tem que arranjar uma resposta para o seu caso. Parece que ler isto nem vale a pena, mas sei que alguém irá continuar a ler, por curiosidade.

Ao delinear a estratégia, quando escolher o/s seu/s mercado/s, deve pensar nos mercados de destino como sendo muitos ao seu alcance, mas nem todos aconselháveis. Editei em 2010 um livro intitulado “Como Seleccionar Mercados Externos - Óptica da Diversificação de Mercados” (à venda na Book House), que aconselhava ter em consideração vários critérios de selecção, que vou passar a destacar, muito em resumo. Note-se que, na altura, pouco se falava dos Mercados Emergentes, mas já se insistia muito na diversificação de mercados.

(1) Olhar para o mundo, não apenas para o que está mais próximo, mas para o Mundo geográfico e experimentar associar os países (que são mercados potenciais) em áreas, verificando-se que essas áreas, como sabe, praticamente já existem e têm coisas em comum: (1.1) Países Emergentes BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul; (1.2) “Tigres Asiáticos de 1ª geração” - Japão, este mercado está em estagnação; (1.3) “Tigres Asiáticos de 2ª geração” - Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan; (1.4) “Tigres Asiáticos de 3ª geração” - Indonésia, Malásia e Tailândia; (1.5) Médio Oriente/Países do Golfo e próximos - Arábia Saudita, Barhain, Egipto, Emirados Árabes Unidos, Koweit, Oman, Qatar e Turquia, este pela proximidade ao M. Oriente; (1.6) Países do Magreb - Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia; (1.7) PALOP - Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc.; (1.8) Países do Mercosul - Brasil (já incluído nos Emergentes), Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela; (1.9) Países do NAFTA - EUA, Canadá e México. Encarado desta maneira, o Mundo dos mercados potenciais parece ficar mais “próximo”. É que, muitas destas áreas têm características em comum, como é fácil de verificar, embora não as vá detalhar neste “post”.

(2) No livro atrás referido, foram escolhidos vários critérios para classificação e selecção dos mercados potenciais, destacando-se os principais: População Total do país, População Urbana, PIB, PIB per capita, valor das importações do produto para o país a classificar, potencial da concorrência, direitos aduaneiros, impostos e taxas locais, outros entraves regulamentares, custos de transporte até ao país de destino, eficiência das estruturas de distribuição no país de destino, risco cambial e risco político, este com alguma importância, nalguns casos. Os critérios foram escolhidos por razões devidamente explicadas (algumas óbvias, outras menos óbvias) e a cada critério foi dada uma certa ponderação, uma vez que uns são bem mais relevantes do que outros.

3) Depois da atribuição dos critérios (e respectiva ponderação), os mercados potenciais foram classificados para cada uma das áreas atrás indicadas. Só a título de exemplo, pois a análise está desactualizada (os dados então utilizados são de 2009), passo a indicar o resultado da selecção, com os três primeiros países por ordem decrescente em cada região: (3.1) Países Emergentes BRICS - China, Rússia e Brasil (a África do Sul ainda não fazia parte dos Emergentes); (3.2) “Tigres Asiáticos de 2ª geração” - Coreia do Sul, Taiwan, e Hong Kong; (3.3) Médio Oriente/Países do Golfo e próximos - Turquia, Arábia Saudita e Egipto (o Qatar foi o 4º); (3.4) Países do Magreb - Argélia, Marrocos e Líbia; (3.5) PALOP - Angola (Moçambique não foi então incluído na análise); (3.6) Países do Mercosul - Brasil, Argentina e Chile; (3.7) Países do Nafta - EUA, Canadá e México (não esquecer que este "ranking" é de 2009).

Devo salientar que, neste momento de crise na Europa (há quem fale em decadência - não quero ir tão longe), as PME em Portugal estão no cerne das possibilidades de crescimento da economia e do emprego. As razões (já descritas nos meus “posts” anteriores) são também explicitadas, de vez em quando, nos jornais e revistas económicas, que habitualmente incluem a apresentação de casos de sucesso. Não tendo possibilidade de apresentar, de momento, quer casos bem sucedidos, quer fracassos (mas as insolvências estão a aumentar), vou somente terminar este "post" por citar um caso histórico (anos setenta do século XX), que conheci de perto (visitei as instalações da EFACEC por duas vezes nessa década) e que, mais tarde e ainda hoje, considero que foi uma das empresas industriais portuguesas dessa época que mais visão teve, no seu tempo (foi constituída no final dos anos quarenta), para conduzir a sua internacionalização; então este nome era ainda pouco usado em Portugal, falava-se só em exportações. Essa empresa percebeu que os seus produtos tinham necessidade dos mercados externos para ter a escala que nunca conseguiria no mercado nacional. Também percebeu que tinha que diversificar, não só para ter escala, mas também para conseguir a expansão que pretendia. Acresce que, nessas visitas, verifiquei que a empresa atribuía muita importância aos recursos humanos e à inovação, o que naquela época não era muito frequente nas empresas portuguesas, sobretudo no que se refere à inovação. Descrever métodos actuais e com êxito potencial no futuro do marketing das exportações, nomeadamente o marketing proveniente da era da Internet, é um tema habitual nestes “posts”. No entanto, convém, de vez em quando, salientar aspectos históricos importantes na vida das empresas que possam de algum modo servir de exemplo para as actuais PME e seus empresários, pois o que se fizer agora poderá tornar uma PME numa futura grande empresa.

quinta-feira, 21 de março de 2013

África do Sul - Um pequeno continente dentro de outro

As características do continente africano são diversificadas, dada a sua dimensão. O facto de se estender de Norte para Sul, atravessado pelos trópicos e equador, contribui para essa variedade. Dentro deste continente, a África do Sul tem um clima geral temperado (embora variando desde o deserto até ao clima subtropical) e apresenta também grande diversidade em muitos aspectos. Para além da variedade geográfica, existe diversidade étnica, cultural (culturas de África e da Europa, sobretudo dos ingleses e holandeses), linguística (11 idiomas oficiais, sendo o inglês o mais usado), bem como diversidade religiosa (porém, cerca de 70% da população tem alguma religião cristã, originada nos europeus). Refira-se ainda que a África do Sul difere substancialmente das outras nações africanas, por ser um país situado na parte meridional do continente, que desenvolveu há várias décadas uma economia industrializada, superior à de qualquer outro país africano, tendo-se tornado a nação mais rica de África. De certa maneira, dada a extensão territorial da África do Sul (1,2 milhões de km2 cerca de 4% do continente africano) e as suas características específicas, permito-me acrescentar “grosso modo” que este país é um pequeno continente dentro da própria África.

A economia sul-africana é a que tem o PIB mais elevado do continente, com 401,9 mil milhões de dólares em 2011 e estimativa de 378,9 mil milhões para 2012 (segundo a Economist Intelligence Unit - EIU). No entanto (dados EIU), encontra-se perante uma revisão em baixa do crescimento económico em 2012 (de 3,1% para 2,8%) e uma previsão de 2,8% para 2013. Os principais indicadores, sobretudo os que têm mais impacto no crescimento económico do país (nas indústrias extractiva e transformadora) sugerem que a tendência se manterá relativamente lenta. Isto é devido principalmente à crise da dívida da zona euro e também a várias greves ocorridas em 2012 e previstas em 2013.

O risco de recessão é baixo, mas o crescimento será lento demais para evitar a elevada taxa de desemprego, que continuará a restringir a procura. Os persistentes obstáculos estruturais, incluindo falta de qualificações da mão-de-obra local, elevado desemprego, crime, corrupção e ineficiência paraestatal, irão actuar como travão no crescimento económico. Acresce que a consolidação fiscal também deverá afectar quer o consumo interno, quer o público. Do mesmo modo, as incertezas em relação ao desenvolvimento do período até às eleições de 2014 poderão travar o investimento privado.

Em suma, esta nação tem um desenvolvimento avançado (possui cerca de um quinto do PIB de toda a África), mas concentrado à volta de quatro áreas: Cidade do Cabo, Port Elizabeth, Durban e Pretória/Johannesburg. A população total é cerca de 51,77 milhões (2011) e a sua grande maioria é pobre ou relativamente pobre. Todavia, as principais zonas marginais têm registado um crescimento rápido nos últimos anos. Quanto à riqueza do país, refira-se que a África do Sul é o maior produtor e consumidor do continente africano, bem como o maior produtor de ouro e diamantes (possui 45% da produção de minérios de África). Depois de 1994, ano em que teve início a era pós-apartheid, o turismo desenvolveu-se rapidamente, o que também contribuiu para o avanço do país em geral. Possui sectores financeiro, de energia, de comunicações e transportes bem desenvolvidos. Há cerca de cinco anos os serviços representavam 65,3% do PIB, a indústria (incluindo extractiva) 31,3% e a agricultura 3,4%. Nessa altura a bolsa de Johanesburg era a 17ª maior do mundo. Actualmente, esta nação é considerada um país emergente, no contexto dos chamados BRICS, iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa), tendo este sido o último a integrar o grupo dos chamados países emergentes.

Do ponto de vista das potencialidades do mercado para absorver as exportações de outros países (europeus e outros), a África do Sul oferece grandes oportunidades, já que a sua economia está a emergir como mercado consumidor de bens de capital, intermédios e de consumo. Por isso, é de salientar que se trata de mais um mercado para expansão das empresas portuguesas. Em 2011, Portugal exportou para a África do Sul cerca de 86 mil euros, o que representou somente 0,2% das nossas exportações totais; isto significa que há ainda muito espaço de mercado, sobretudo para máquinas e aparelhos, os produtos mais exportados nos últimos anos. Acresce que, pesquisando no já habitual Google, encontram-se facilmente Websites de empresas sul-africanas, existindo também várias entidades em Portugal e na África do Sul que podem apoiar as PME portuguesas a encontrar a melhor solução para penetrar nesse mercado. As tradicionais feiras para expor os produtos são várias as que se realizam nas principais cidades (atrás referidas). Para além do Marketing Convencional, podem as empresas portuguesas exportadoras (através de Websites bem desenhados) fazer experiências de contactos com África do Sul, bem menos dispendiosos do que a presença nas feiras, podendo para esse efeito utilizar a consultoria na área do “Inbound Marketing”, “SMarketing - Marketing e Vendas”, nomeadamente a “Nível Horizontal”, cujos “posts” são verdadeiros incentivos à experiência de exportação através dos Websites das empresas exportadoras. Eis os temas de alguns desses “posts”: “3 Formas de Gerar mais Vendas com o Website”; “Como Abordar o Conteúdo para Entrar em Novos Mercados de Exportação”; “Como Exportar e Vender Mais com o Website”; “Exportação e Internacionalização Facilitada com o Facebook Global Pages”; “6 Dicas sobre Optimização de Websites para o Mercado Internacional e a Exportação”; "Tácticas para Exportar Quando as Feiras não são Opção".

segunda-feira, 11 de março de 2013

Moçambique - Segue as pisadas de Angola?

Entre os PALOP, aparentemente Moçambique é o que se segue. Digo aparentemente, porque levará muito tempo até atingir a importância que Angola tem como mercado das exportações portuguesas. No entanto, como local para internacionalização de empresas do nosso país já começa a fazer-se notar. Existem já muitos empresários a entenderem bem que África (durante muitos anos considerado o Continente perdido, como diziam alguns amigos meus) será o “futuro próximo” para os nossos negócios se, entenda-se, tudo correr bem no que se refere à internacionalização de Angola em Portugal. Parece importante considerar que o comportamento de Angola no nosso país pode ter influência nas relações comerciais com os outros PALOP.

Para já, se considerarmos que o contributo de África para o PIB mundial não chega a 2%, para cerca de 900 milhões de habitantes (um sétimo da população do mundo) em 54 países e que Moçambique, no contexto de África, representa 2,6% da população (a área territorial de Moçambique é, por coincidência, 2,66% do continente africano), pode dizer-se que as descobertas de carvão e gás neste país assumem grande importância para a sua economia e também pelas perspectivas que oferece no domínio do investimento internacional. Note-se que Moçambique cresceu nos últimos dois ou três anos a 6% ou 7% ao ano e que o FMI prevê que assim continue nos próximos três anos. Este nível de crescimento do PIB só é comparável com os crescimentos das economias emergentes.

Para Portugal, o mercado de Moçambique sempre foi importante, não só pela língua, mas também pelos aspectos históricos. Neste momento, atendendo a estas novas perspectivas torna-se ainda mais relevante. Foi assim com Angola, que se transformou num dos principais parceiros comerciais do nosso país. Note-se que, em relação ao Brasil, mercado emergente que, devido às relações históricas e à língua comum, já deveria nesta altura ser mais importante do que é para as nossas exportações, já tive a oportunidade de aconselhar várias vezes as empresas exportadoras a desenvolverem o Marketing Digital, o Inbound Marketing e o SMarketing (função Marketing em união com Vendas), uma vez que a utilização da Internet no Brasil está bastante desenvolvida e o comércio electrónico está muito activo, sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro.

No entanto, com Moçambique há que utilizar o Marketing Convencional. Planear visitas ao mercado (atenção às escolhas da classe de viagem e hotel para evitar custos exagerados), organizar previamente contactos usando entidades em Portugal (AICEP, Câmara de Comércio Portugal/Moçambique, alguns bancos e sociedades de financiamento do desenvolvimento) e também em Moçambique (através de e-mails), fazer orçamentos tão detalhados quanto possível para os primeiros anos do provável negócio, desenvolver contactos com outras empresas e entidades que já têm actividade em ou com Moçambique, para detectar obstáculos e dificuldades, bem como o tempo habitual do retorno do investimento. 

 Actualmente, Portugal exporta para Moçambique um montante anual seguramente superior a 260 milhões de euros (em 2012, entre Janeiro e Novembro foi de 262.510 mil euros) e o número de empresas portuguesas a exportar é mais de dois mil (em 2011 foi 2039). Os produtos mais exportados são as máquinas e aparelhos (em 2011 constituíram 37,5%), seguindo-se metais comuns (10,8%), veículos e material de transporte (9,1%) e produtos alimentares (8%).