quinta-feira, 30 de outubro de 2014

China parece que está na moda - Saberão as PMEs porquê?

Conhecemos a China longínqua, mas sentimo-la cada vez mais perto de nós, pelas boas e más razões, ou para ser mais correcta, pelos motivos mais óbvios e pelos mais ignorados. Os que se notam mais desde há muitos anos são as lojas chinesas, as imitações de tudo o que se vende no Ocidente, os preços baixos, os chineses propriamente ditos (trabalhadores inveterados) mas também, há menos anos, é bem conhecida a entrada em Portugal dos grandes investimentos chineses. Do mesmo modo, quase todos os portugueses, através da comunicação social, sabem que a China se tornou uma das maiores economias do mundo, quando até agora era apenas o país mais populoso. Acresce que, também algumas empresas exportadoras portuguesas estão já a vender para a China, seja em início de exportação, seja em planos para futuramente exportar. Tudo isto se passa, mas torna-se cada vez mais necessário conhecer melhor um mercado que há já várias décadas está a ser trabalhado por multinacionais norte-americanas e europeias, através de marcas bem conhecidas, desde automóveis até produtos de higiene e cosméticos. Os estudos que se fizeram para penetrar naquele mercado são difíceis de conhecer, mas os percursos das principais marcas são mais evidentes e mostram seguramente que o mercado é como qualquer outro, ou seja, tem aspectos gerais, em que os consumidores revelam comportamentos semelhantes a qualquer consumidor do mundo, e tem aspectos específicos e locais, como qualquer mercado local, e que devem ser conhecidos, antes de se pensar em penetrar naquele país. Claro que a entrada no mercado também tem de ser planeada consoante a indústria em questão.

Refira-se que uma grande empresa de estudos e auditoria sediada em Londres (Ernst and Young) prevê que daqui a quinze anos (cerca de 2030) aproximadamente dois terços da população mundial de classe média estarão na Ásia-Pacífico, sobretudo na China. Presentemente com 150 milhões de consumidores de classe média, a China poderá ter mil milhões, o que representa um mercado enorme para as empresas norte-americanas e europeias. Actualmente, o mercado chinês representa para as empresas norte-americanas à volta de 250 mil milhões de dólares. Ou seja, apostar no mercado chinês não é utopia, mas sim uma previsão baseada em dados actuais.

Presentemente, a estabilidade política é evidente, com a entrada em funções do presidente Xi Jinping em Março de 2013; após a posse, tornou-se um líder de confiança, com maior autoridade no partido do que qualquer anterior liderança, desde Deng Xiaoping (1978-1992). O primeiro-ministro, Li Keqiang, tem estado relativamente apagado com a sombra do presidente Xi, mas parece acompanhar a agenda do presidente e está provavelmente a ter um papel importante na definição e execução da política. A campanha anti-corrupção deverá dar ao presidente um instrumento poderoso como aviso a dissidências dentro do partido. Essa campanha já levou a demissões de algumas figuras seniores nas empresas estatais (segundo a Economist Intelligence Unit - EIU).

A grande fonte de influência da China na situação global consiste no desejo dos governos estrangeiros e empresas do exterior conseguirem tirar partido do enorme mercado interno chinês e também de atrair o investimento da China para os respectivos países.

A economia chinesa cresceu 7,7% em 2013, apoiada por um pacote de mini-estímulos a grandes investimentos que o governo lançou em meados do ano. Como a campanha do governo contra despesas públicas extravagantes começou a ser mais moderada, o crescimento do consumo (tanto público como privado) deverá acelerar em 2014. O desempenho das exportações chinesas será também melhor, à medida que se fortalecer a procura externa, sobretudo nos EUA e na UE. Contudo, as condições restritivas do crédito provavelmente farão abrandar o crescimento do investimento em 2014. A previsão da EIU para o crescimento económico em 2014 é de 7,2%. As previsões de incremento para as exportações de bens e serviços em 2014 é de 7,5% e em 2015 de 7,6%. Quanto às importações de bens e serviços, estas crescerão 7,9% em 2014 e 8,3% em 2015. Verifica-se, assim, que a China continuará a ser um grande exportador mundial e também um grande importador. Neste caso, o crescimento irá mesmo acelerar de 2014 para 2015.

Ora são estes números do crescimento das importações chinesas que as PMEs exportadoras portuguesas deverão olhar se querem pensar ou continuar a pensar na China. O mercado tem espaço, a questão é saber quais os produtos ou grupos de produtos que mais interessam à economia chinesa e ao consumidor chinês.

As oportunidades existem sobretudo nas regiões com maior poder de compra que se encontram nas províncias do litoral, desde Guangdong a Liaoning e menos nas províncias do interior. As regiões mais ricas são Guangdong, Zhjiang, Xangai, Pequim e Tianjin. Como a China se encontra num processo de construção de infra-estruturas, considerado único a nível mundial pela sua dimensão, existem oportunidades nas áreas de transportes quer ferroviários quer rodoviários (equipamentos, etc.), na energia, na habitação, podendo as empresas portuguesas considerar hipóteses na internacionalização nestes sectores. Na área dos serviços, o envelhecimento da população tem impulsionado os sectores relacionados com cuidados de saúde, mas o aumento do nível de vida está a ter impacto nas áreas de restauração e entretenimento. Os serviços às empresas e o sector bancário (dada a gradual liberalização neste país) são também áreas com oportunidades. Na área do turismo, o crescente poder de compra e a diminuição das restrições aos movimentos de pessoas, estão a favorecer as saídas de turistas chineses, mas a popularização da China como destino turístico também se verifica. Há muitos anos que muitos portugueses viajam para a China em turismo.

Exportar de Portugal para a China é um fenómeno que existe, mas tem pouco significado. No entanto, referem-se os principais grupos de produtos exportados (fonte: Aicep): máquinas e aparelhos são os principais, com menor expressão seguem-se os minerais e minérios, os metais comuns, a madeira e cortiça e os produtos químicos.

Os aspectos da qualidade e da imagem são essenciais para as empresas ocidentais exportarem para a China, dado que este país consegue produzir quase tudo a custos muito inferiores aos das empresas ocidentais. Assim, estas são consideradas as vantagens competitivas. Na qualidade, nota-se que as grandes empresas chinesas já investem em máquinas de origem norte-americana ou europeia se estas trouxerem vantagens em termos de qualidade de produção. Existem muitos exemplos neste sentido. A Aicep indica que, entre as indústrias portuguesas que poderão procurar mercado nesta área encontram-se as de moldes, peças para máquinas, máquinas e aparelhos e cortiça. Quanto à imagem, sabe-se que na sociedade chinesa o estatuto assume uma particular importância, pelo que os consumidores chineses com algum poder de compra procuram as marcas ocidentais conhecidas. Isto porque os chineses dessa categoria sabem que os produtos de marca têm preço mais elevado e que o público se apercebe disso, sendo esta a razão porque os preferem. Esta situação pode suceder ou vir a suceder com produtos portugueses de certos sectores, como por exemplo, têxteis, calçado, vinho, mobiliário, artigos para o lar e materiais de construção. Os sectores indicados são os que têm maior potencial de exportação para a China, mas a qualidade e a imagem têm de ser considerados aspectos-chave nos produtos a exportar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Moçambique - Economia em expansão cria oportunidades

Moçambique está na ordem do dia no continente africano, sobretudo para Portugal, claro. A língua portuguesa une o nosso país a várias economias africanas e isto não pode ser esquecido, no momento em que vários países europeus continuam a procurar oportunidades de negócio na África Lusófona e até certos países asiáticos estão em vias de o fazer ou já estão mesmo lá, como a Coreia do Sul (empresa Kogas) através do investimento no projecto de distribuição de gás natural (para os consumidores domésticos e ao nível comercial em Maputo). Acima de tudo, note-se que o investimento estrangeiro é normalmente a base do desenvolvimento das economias africanas, por isso salienta-se também o investimento da África do Sul (empresa Sasol) nas novas instalações de energia em Ressano Garcia, em “join-venture” com a Electricidade de Moçambique. Acresce que a produção será não só para consumo interno, mas também para exportação com destino à África do Sul.  É claro que o importante projecto de distribuição de gás natural no município de Maputo foi inaugurado recentemente (11 de Setembro de 2014) pelo presidente da república Armando Guebuza.


Este texto sobre Moçambique começou com um facto de relevo, porque se pretende salientar que as previsões para esta economia vão no sentido de grande expansão (acima de 7% de crescimento anual), sendo o consumo interno também elevado, mas o consumo público ainda mais, a seguir a 2016, porque em 2015 se prevê uma quebra do consumo público. O investimento fixo (FBCF) deverá ser sempre elevado nos próximos quatro anos, bem como as exportações e importações de bens e serviços. Entre as actividades que irão crescer mais encontra-se a indústria, acima dos 10% ao ano (sobretudo a mineira), os serviços (entre 6% e 7% ao ano), e a agricultura crescerá  entre 4% e 5%.  As exportações irão crescer muito e os produtos a vender no exterior serão sobretudo as matérias-primas mineiras e também as “commodities” agrícolas, não esquecendo mencionar o alumínio. Mas o carvão também se salienta porque, em 2016, é possível que ultrapasse o alumínio, que tem sido a maior exportação moçambicana. O gás também será uma forte exportação, mas só daqui a quatro ou cinco anos. Isto deverá acontecer, no entanto o défice de rendimentos, ainda pouco elevado em 2014, acabará muito elevado daqui a quatro anos, porque os investidores estrangeiros no sector mineiro começarão a repatriar os rendimentos nessa altura. Ora este aspecto da economia moçambicana deveria ser visto atempadamente pelas respectivas autoridades, no sentido de evitar que a estrutura da economia não saia prejudicada pelo investimento estrangeiro e que, antes pelo contrário, seja uma troca justa para o investidor externo e para Moçambique, que tanto precisa de se desenvolver e precaver contra as habituais inundações. Refira-se que as importações do país estão a ser substanciais, sobretudo de equipamentos, necessários ao desenvolvimento e às empresas de gás e do sector mineiro.


O banco central do país está a envidar esforços, através da política monetária, para manter a inflação controlada, pois esta pode ser uma ameaça à estabilidade social. Também pretende expandir o crédito à economia, o que fará desde que a inflação esteja sob controlo. Para finalizar, refira-se que a estabilidade política é um aspecto essencial ao desenvolvimento do país. Os analistas preveem que o partido do governo (Frelimo) permaneça a força política dominante nos próximos quatro ou cinco anos, e a assinatura do acordo de paz, depois de 18 meses de tensões violentas, entre o governo e a oposição histórica, a Renamo, melhorou bastante as perspectivas a curto prazo. O acordo, assinado no princípio de Setembro, entre o Presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, acordo ractificado pelo parlamento, possibilitou uma campanha para as eleições de 15 de Outubro, no mínimo calma. As eleições acabam de ser ganhas por Filipe Nyussi, da Frelimo, anteriormente ministro da defesa no governo de Guebuza, que, assim, sucede a este. No entanto, há que deixar assentar a poeira para ver como irá reagir quem perdeu estas eleições.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

China - Como será exportar para lá?

Conhecemos a China longínqua, mas sentimo-la cada vez mais perto de nós, pelas boas e más razões, ou para ser mais correcta, pelos motivos mais óbvios e pelos mais ignorados. Os que se notam mais desde há muitos anos são as lojas chinesas, as imitações de tudo o que se vende no Ocidente, os preços baixos, os chineses propriamente ditos (trabalhadores inveterados) mas também, há menos anos, é bem conhecida a entrada em Portugal dos grandes investimentos chineses. Do mesmo modo, quase todos os portugueses, através da comunicação social, sabem que a China se tornou uma das maiores economias do mundo, quando até agora era apenas o país mais populoso. Acresce que, também algumas empresas exportadoras portuguesas estão já a vender para a China, seja em início de exportação, seja em planos para futuramente exportar. Tudo isto se passa, mas torna-se cada vez mais necessário conhecer melhor um mercado que há já várias décadas está a ser trabalhado por multinacionais norte-americanas e europeias, através de marcas bem conhecidas, desde automóveis até produtos de higiene e cosméticos. Os estudos que se fizeram para penetrar naquele mercado são difíceis de conhecer, mas os percursos das principais marcas são mais evidentes e mostram seguramente que o mercado é como qualquer outro, ou seja, tem aspectos gerais, em que os consumidores revelam comportamentos semelhantes a qualquer consumidor do mundo, e tem aspectos específicos e locais, como qualquer mercado local, e que devem ser conhecidos, antes de se pensar em penetrar naquele país. Claro que a entrada no mercado também tem de ser planeada consoante a indústria em questão.

Refira-se que uma grande empresa de estudos e auditoria sediada em Londres (Ernst and Young) prevê que daqui a quinze anos (cerca de 2030) aproximadamente dois terços da população mundial de classe média estarão na Ásia-Pacífico, sobretudo na China. Presentemente com 150 milhões de consumidores de classe média, a China poderá ter mil milhões, o que representa um mercado enorme para as empresas norte-americanas e europeias. Actualmente, o mercado chinês representa para as empresas norte-americanas à volta de 250 mil milhões de dólares. Ou seja, apostar no mercado chinês não é utopia, mas sim uma previsão baseada em dados actuais.

Presentemente, a estabilidade política é evidente, com a entrada em funções do presidente Xi Jinping em Março de 2013; após a posse, tornou-se um líder de confiança, com maior autoridade no partido do que qualquer anterior liderança, desde Deng Xiaoping (1978-1992). O primeiro-ministro, Li Keqiang, tem estado relativamente apagado com a sombra do presidente Xi, mas parece acompanhar a agenda do presidente e está provavelmente a ter um papel importante na definição e execução da política. A campanha anti-corrupção deverá dar ao presidente um instrumento poderoso como aviso a dissidências dentro do partido. Essa campanha já levou a demissões de algumas figuras
A grande fonte de influência da China na situação global consiste no desejo dos governos estrangeiros e empresas do exterior conseguirem tirar partido do enorme mercado interno chinês e também de atrair o investimento da China para os respectivos países.

A economia chinesa cresceu 7,7% em 2013, apoiada por um pacote de mini-estímulos a grandes investimentos que o governo lançou em meados do ano. Como a campanha do governo contra despesas públicas extravagantes começou a ser mais moderada, o crescimento do consumo (tanto público como privado) deverá acelerar em 2014. O desempenho das exportações chinesas será também melhor, à medida que se fortalecer a procura externa, sobretudo nos EUA e na UE. Contudo, as condições restritivas do crédito provavelmente farão abrandar o crescimento do investimento em 2014. A previsão da EIU para o crescimento económico em 2014 é de 7,2%. As previsões de incremento para as exportações de bens e serviços em 2014 é de 7,5% e em 2015 de 7,6%. Quanto às importações de bens e serviços, estas crescerão 7,9% em 2014 e 8,3% em 2015. Verifica-se, assim, que a China continuará a ser um grande exportador mundial e também um grande importador. Neste caso, o crescimento irá mesmo acelerar de 2014 para 2015.

Ora são estes números do crescimento das importações chinesas que as PMEs exportadoras portuguesas deverão olhar se querem pensar ou continuar a pensar na China. O mercado tem espaço, a questão é saber quais os produtos ou grupos de produtos que mais interessam à economia chinesa e ao consumidor chinês.

As oportunidades existem sobretudo nas regiões com maior poder de compra que se encontram nas províncias do litoral, desde Guangdong a Liaoning e menos nas províncias do interior. As regiões mais ricas são Guangdong, Zhjiang, Xangai, Pequim e Tianjin. Como a China se encontra num processo de construção de infra-estruturas, considerado único a nível mundial pela sua dimensão, existem oportunidades nas áreas de transportes quer ferroviários quer rodoviários (equipamentos, etc.), na energia, na habitação, podendo as empresas portuguesas considerar hipóteses na internacionalização nestes sectores. Na área dos serviços, o envelhecimento da população tem impulsionado os sectores relacionados com cuidados de saúde, mas o aumento do nível de vida está a ter impacto nas áreas de restauração e entretenimento. Os serviços às empresas e o sector bancário (dada a gradual liberalização neste país) são também áreas com oportunidades. Na área do turismo, o crescente poder de compra e a diminuição das restrições aos movimentos de pessoas, estão a favorecer as saídas de turistas chineses, mas a popularização da China como destino turístico também se verifica. Há muitos anos que muitos portugueses viajam para a China em turismo.

Exportar de Portugal para a China é um fenómeno que existe, mas tem pouco significado. No entanto, referem-se os principais grupos de produtos exportados (fonte: Aicep): máquinas e aparelhos são os principais, com menor expressão seguem-se os minerais e minérios, os metais comuns, a madeira e cortiça e os produtos químicos.

Os aspectos da qualidade e da imagem são essenciais para as empresas ocidentais exportarem para a China, dado que este país consegue produzir quase tudo a custos muito inferiores aos das empresas ocidentais. Assim, estas são consideradas as vantagens competitivas. Na qualidade, nota-se que as grandes empresas chinesas já investem em máquinas de origem norte-americana ou europeia se estas trouxerem vantagens em termos de qualidade de produção. Existem muitos exemplos neste sentido. A Aicep indica que, entre as indústrias portuguesas que poderão procurar mercado nesta área encontram-se as de moldes, peças para máquinas, máquinas e aparelhos e cortiça. Quanto à imagem, sabe-se que na sociedade chinesa o estatuto assume uma particular importância, pelo que os consumidores chineses com algum poder de compra procuram as marcas ocidentais conhecidas. Isto porque os chineses dessa categoria sabem que os produtos de marca têm preço mais elevado e que o público se apercebe disso, sendo esta a razão porque os preferem. Esta situação pode suceder ou vir a suceder com produtos portugueses de certos sectores, como por exemplo, têxteis, calçado, vinho, mobiliário, artigos para o lar e materiais de construção. Os sectores indicados são os que têm maior potencial de exportação para a China, mas a qualidade e a imagem têm de ser considerados aspectos-chave nos produtos a exportar.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

PME e o Mercado dos EUA

Comportamento da Economia Norte-americana

A economia dos EUA no final de 2013 estava a ser influenciada pela primeira metade do ano. A situação económica comportou-se relativamente bem face à restrição fiscal do início do ano, uma vez que o sector privado revelou-se dinâmico. Por seu lado, os consumidores optaram por diminuir as poupanças, a fim de conseguirem manter o seu poder de compra. Assim, as previsões dos principais analistas vão no sentido de o consumo privado crescer 1,9% em 2013 e um pouco mais em 2014. O crescimento do PIB deverá ser de 1,6%, muito abaixo dos 2,8% de 2012, mas houve um progresso ao longo de 2013, que irá continuar em 2014, ano em que a previsão para o incremento do PIB é de 2,6%. No entanto, uma provável restrição monetária em 2014 fará reduzir o crescimento nos dois anos seguintes.

Ambiente Político

Importante é salientar que o comportamento económico irá ser condicionado pela cena política, que continua marcada pela grande diferença ideológica entre Democratas e Republicanos, a qual se manifesta na divisão do Congresso. Isto torna difíceis os compromissos políticos e muito complicada a passagem de legislação no Congresso em aspectos de grande importância  para o país. Um obstáculo é que a maioria republicana continua a ser fortemente influenciada pelos republicanos ultra-conservadores ligados ao movimento anti-governamental “Tea Party”. De facto, os republicanos estão divididos entre os membros do “Tea Party” e a ala mais moderada do Partido, liderada por John Boehner, o “Speaker” na Câmara dos Representantes. Recentemente, no contexto das negociações para o Orçamento de 2014 (este teve início a 1 de Outubro), a Administração Obama acabou por iniciar o processo de suspensão dos serviços públicos federais não essenciais, o que aconteceu pela primeira vez em 17 anos. A decisão da Casa Branca foi tomada pouco antes da meia noite de 30 de Setembro, que era o limite para que o Congresso acordasse numa resolução para a continuação do financiamento da Administração Federal, que entrou em novo ano fiscal a 1 de Outubro. Os republicanos na Câmara dos Representantes, onde detêm a maioria, continuaram a bloquear as negociações, exigindo o adiamento por um ano da lei de cuidados de saúde, conhecida como Obamacare.

Novo Paradigma no Marketing - Números sobre o Online
Para além deste ambiente, o final de 2013 enfrenta desafios, que já não são nada novos mas que muitas PME portuguesas ainda não estão preparadas para reagir com prontidão. Trata-se obviamente da mudança de paradigma no que refere ao marketing de exportação.
Vou apresentar alguns números para elucidar a mudança que começou e irá certamente continuar. O número de compradores digitais nos EUA, em milhões, tem progredido do seguinte modo: 2010 - 172,30 milhões; 2011 - 178,30; 2012 - 183,80; 2013 - 189,40; 2014 - 194,80; 2015 - 200,10; 2016 - 205,20; 2017 - 210,20 (Fonte: eMarketer - em 2013 são estimativas e a partir de 2014 previsões). A nível mundial, estes milhões de compradores digitais norte-americanos representam uma fatia substancial. No entanto, apesar de elevado, em relação ao mundo o mercado digital dos EUA não tem aumentado de peso, dado que outras regiões do mundo estão também a progredir a nível digital e tudo indica que este movimento alastre. Vejamos este exemplo: Percentagem do B2C e-commerce dos EUA em relação ao global: 2010 - 35,8%; 2011- 33,5%; 2012 - 31,5%; 2013 - 29,7%; 2014 - 27,8%; 2015 - 26,9%; 2016 - 26,3% (Fonte: ComScore). A percentagem é elevada, mas está a diminuir. Vejamos agora outro exemplo: Percentagem do B2C e-commerce da Ásia-Pacífico relativamente ao global: 2011 - 27,9%; 2012 - 30,5%; 2013 - 33,4%; 2014 - 36,5%; 2015 - 38,2%; 2016 - 39,7%. Pelo contrário, na  Ásia-Pacífico o peso aumenta ano a ano (a Fonte é a mesma). Quer isto dizer que as PME portuguesas, como as dos outros países Ocidentais, devem preparar-se para acompanhar este movimento, uma vez que, a médio-longo prazo ficarão fora do marketing de exportação actual.
Inbound Marketing, SMarketing, CRM, Websites na Exportação

Quando se fala de e-commerce, tem que se falar de Marketing Digital, Inbound Marketing, SMarketing (marketing em fusão com vendas), CRM, Exportar com o Website, Páginas de Aterragem, Estratégia de Conteúdos, etc.
   

 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Economia de Angola em meados de 2014


O crescimento económico em Angola, previsto em 8,8% em 2014, deverá ser revisto para 4,6%, devido ao andamento da produção de petróleo na primeira parte do ano. Só em 2015 o crescimento será de 5,5%, mesmo assim muito inferior à previsão ambiciosa inicial de 8,8%. Este crescimento, de capital intensivo e dependente das importações, tem fortes ligações a áreas dominadas pelo sector estatal, nomeadamente a construção e o sector financeiro. O sector não petrolífero, como transportes, indústria ligeira, comércio e serviços, terá rápida expansão, mas a falta de reformas e a sobre-valorizada taxa de câmbio, dará um mau clima de negócios, restringindo o investimento fora dos sectores petrolífero e da construção.

Apesar dos esforços do governo angolano para estimular as pequenas e médias empresas, bem como os serviços, exemplo do turismo (que pode levar à criação do emprego), e ainda esforços para desenvolver um sector privado dinâmico, esses esforços enfrentam obstáculos como seja um fraco capital humano, deficiente regulação, insuficiente fornecimento de energia, elevados níveis de corrupção e ainda a redução (crowding-out) do investimento privado através das medidas do sector público.

O Banco Nacional de Angola (banco central) fez cortes nas taxas de juro por três vezes em 2013, em cem pontos-base, o que reflecte a tendência inflaccionária positiva e uma redução das preocupações em relação ao impacto da legislação sobre o petróleo na liquidez do sistema monetário. A manutenção da inflação a um só dígito continua a ser um objectivo essencial do banco central.


O desempenho do sector petrolífero deverá continuar a ter um impacto substancial no equilíbrio orçamental nos próximos quatro anos. Os analistas estão optimistas em relação aos preços de petróleo em 2014, esperando um declínio de apenas 0,5%, contra a anterior previsão de -1,3%, mas esperam que haja uma queda anual de 3,7% nos próximos quatro anos. Todavia, isto será em parte ultrapassado pelo aumento da produção de petróleo e gás, mas o governo continuará a gastar bastante em programas sociais e nas infra-estruturas, pelo que o orçamento deverá ter um défice médio de 1,4% do PIB nos próximos quatro anos, com apenas um ligeiro excedente em 2015, devido sobretudo ao aumento da produção nesse ano. Angola deverá também continuar a contar com financiamentos e linhas de crédito dos seus habituais e recentes parceiros, nomeadamente China e Brasil.

No sector externo, a posição da balança corrente deteriorar-se-á nos próximos quatro anos, devido ao rápido crescimento das importações (com origem nos investimentos públicos em bens de capital). A actividade relativamente robusta das exportações deverá assegurar a continuação de um grande défice nos serviços e nos rendimentos, atingindo médias da ordem dos dois dígitos nos próximos quatro anos (13,4% em 2014 e 8,7% em 2018). Mas a balança de transferências ficará relativamente estável nos próximos quatro anos. Em geral, os analistas prevêm um excedente da balança corrente de 5,2% do PIB em 2013 a contrair-se para 0,6% em 2016. A seguir, estimam que a balança corrente tornar-se-á deficitária em 2017, chegando mesmo aos -2,8% do PIB em 2018.


Importa ainda referir que este contexto económico é acompanhado, pelo menos até 2016 segundo se pensa, por uma estabilidade política vigorosa, embora o Presidente José Eduardo dos Santos (no poder desde 1979) tenha possibilidade, pela Constituição de 2010, de permanecer até 2022. No entanto, especula-se em Angola (segundo The Economist Intelligence Unit) que o Presidente queira decidir sair antes dessa data, pelo que também se especula sobre o iniciar ou não de uma discussão quanto à sua sucessão. Naturalmente, também existem preocupações no sentido em que uma saída repentina do Presidente possa conduzir à instabilidade, por um possível vácuo poder. 


Aproveitar a estabilidade política existente em Angola é naturalmente importante para as empresas que pretendem introduzir-se no mercado, seja através do investimento no país, seja pela via das exportações. Assim, como se depreende do parágrafo anterior, este é o momento para quem ainda não teve oportunidade de se expandir neste país africano de língua portuguesa.
 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

PME - Alemanha como mercado importador

A procura de novos mercados para as PME, ou a necessária diversificação para fora da Europa, que contribui para assegurar o futuro das PME, não pode fazer cair no esquecimento o grande mercado europeu importador que é a Alemanha. Se não  vejamos. Continua a ser um país politicamente estável, prevendo-se que vá até ao fim a grande coligação iniciada em Dezembro de 2013, ou seja, deverá durar até 2017, segundo previsões da “Economist Intelligence Unit” (EIU). A coligação terá, porém, de ultrapassar provas importantes, como as eleições para o Parlamento Europeu (Maio de 2014), bem como eleições em relevantes estados da Alemanha (Brandenburg, Saxony e Thuringia, em 2014, e ainda Hamburg e Bremen em 2015). Refira-se ainda que um risco à estabilidade está nos aspectos relativos à zona euro. No domínio económico, a Alemanha continua mais resiliente do que as restantes economias da zona euro. O investimento deverá recuperar com um crescimento médio de 3,5% em 2014-2018, assumindo que se verifique uma retoma moderada da actividade doméstica. Note-se que, segundo as previsões da EIU, o crescimento das importações será superior ao das exportações no período referido. A Alemanha mantém-se como grande mercado importador. Refira-se, por fim, que o país apresenta uma balança corrente positiva, não só devido ao elevado montante das exportações, mas também pelo retorno dos enormes investimentos no exterior.

Portugal e a Alemanha

Outro aspecto em que a Alemanha revela importância está na sua capacidade de continuar a comprar produtos portugueses de qualidade.  Portugal exportou para a Alemanha em 2013 cerca de 5,5 mil milhões de euros, sendo este país o 2º nosso cliente (peso aproximado: 12%). Para a Alemanha, Portugal como comprador tem uma posição claramente inferior, tendo o nosso país sido o 33º cliente dos alemães (um reduzido peso: 0,6%).  Os principais grupos de produtos portugueses exportados para a Alemanha têm sido: máquinas e aparelhos, veículos e outro material de transporte, plásticos e borracha, químicos, calçado, metais comuns, pastas celulósicas e papel, vestuário, matérias têxteis, minerais e minérios, instrumentos de óptica e precisão, madeira e cortiça, produtos alimentares e agrícolas, peles e couros, etc. Em termos mais detalhados (4 dígitos da NC), os produtos que a Alemanha mais compra a Portugal são:  automóveis de passageiros, calçado, pneumáticos de borracha, partes e acessórios de automóveis, aparelhos e receptores para rádio, etc, papel e cartão, partes de máquinas, medicamentos, torneiras, válvulas, etc, circuitos integrados e microconjuntos electrónicos.

Quanto ao investimento directo da Alemanha em Portugal, ele atingiu  3,4 mil milhões de euros em 2013. Infelizmente, provavelmente devido ao ambiente de crise, houve também um desinvestimento elevado (3,5 mil milhões), de que resultou um investimento líquido negativo de 91 milhões de euros. Isto significa que não só é importante atrair investimento, mas também existirem condições que possibilitem ao investimento alemão manter-se em Portugal.
Por fim, olhamos para os fluxos turísticos que Portugal teve com a Alemanha, nomeadamente as receitas provenientes dos turistas alemães (base: hotelaria global). Estas cresceram entre 2009 e 2013, de 753 milhões de euros para 961 milhões, uma variação de 6,3% neste período. Ou seja, o turismo de alemães em Portugal, mercê do contexto geral e do jogo entre as alternativas da concorrência e da oferta portuguesa, continua a funcionar favoravelmente para o lado português. 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

PME - Ter agenda própria em vez de ir atrás de outras agendas

O título do “post” parece um lugar comum, no entanto, é um problema real que o excesso de informação contraria os objectivos de muitos empresários de PMEs. Por vezes sem departamento de estudos para analisar os problemas e encontrar soluções, o empresário tem de fazer tudo, não apenas ser “dois em um” (slogan do século passado), mas “tudo num só”, ou outro slogan mais interessante, conforme quiser. As coisas tornam-se mais sérias quando as PMEs têm elas próprias de vender algo que as pessoas realmente queiram e conseguir delas respeito e confiança para as suas empresas e produtos. Sendo o marketing essencialmente informação, é óbvio que actualmente os consumidores já não são apenas informados pelo “outbound marketing” (marketing tradicional, TVs, etc.), mas também fazem pesquisa na Internert, antes de passar ao acto de compra (em muitas categorias de produtos). As empresas devem assim usar o “inbound marketing”, ou seja “ajudar o seu negócio a ser encontrado” por pessoas que já sabem alguma coisa dos seus produtos, ou sectores.


Este raciocínio, funcionando das PME para os consumidores, ou seja, “admitir que há excesso de informação e escassez de atenção”, penso que pode funcionar também a nível da recepção de informação pelos empresários de PMEs. Por vezes, estes podem cair no erro de não ter agenda própria bem definida, passando muito tempo a aceitar sugestões de instituições financeiras, ou estatais, ou associativas ou mesmo outras, sem as filtrar. Da parte de instituições financeiras, é óbvio que elas promovem os seus produtos financeiros para os seus próprios fins e, claro, pensando nos seus clientes PME e muitos outros, mas da parte de outras instituições é menos óbvio que o seu interesse também seja corporativo e não meramente para apoio dos empresários de PMEs. Importa, assim, filtrar, tanto quanto possível, o que é útil à estratégia e à agenda da PME. Por exemplo, tradicionalmente as missões comerciais e feiras nos mercados externos são sugeridas como opção de relevo para as PMEs. Por vezes, estas acabam por não aderir, por razões de análise custo-benefício e não debatem adequadamente outras opções. Aqui, vale a pena considerar na sua agenda própria outras opções mais modernas. É bom que o empresário de PME admita que “não está tudo inventado”. O pensamento “para quê fazer de novo se algo já foi inventado?” tem a sua utilidade, mas pode não corresponder à realidade. Existem tácticas para exportar quando as feiras não são opção. A Internet e o “inbound marketing” podem proporcionar a possibilidade de estar presente “naquela sua feira” 24 horas por dia, 365 dias por ano. É essencial a abertura de espírito para pensar diferente.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Empresários de PMEs - A China é um grande mercado importador

A China exporta para quase todo o mundo, mas é também um grande mercado importador. Entre Portugal e a China, este país fica a ganhar, pois os importadores portugueses compram mais à China do que os exportadores lhes vendem. No entanto, as empresas exportadoras estão a começar a ver a China como potencial comprador, muito embora em valor absoluto e relativo seja ainda pouco relevante. Há cerca de cinco anos, o valor das exportações portuguesas para a China era inferior a 185 milhões de euros e em 2013 foi superior a 650 milhões de euros. A diferença é significativa; refira-se ainda que, em relação ao total das exportações portuguesas, o destino China representava 0,5% em 2008 e em 2013 esteve próximo de 1,5%. Parece quase nada, mas a posição da China como país cliente subiu do 27º para o 12º lugar e em 2012 chegara ao 10º lugar. Primeira e segunda lições: na economia global não existem mercados impossíveis.

As empresas chinesas de maior dimensão já investem em máquinas de origem europeia ou norte-americana se estas trouxerem manifestas vantagens em qualidade de produção (fiabilidade, qualidade do produto final, durabilidade, etc.). Encontram-se, por exemplo, no sector farmacêutico, empresas que utilizam quase exclusivamente equipamento alemão ou italiano nas suas linhas de produção. Acresce que o crescimento da economia chinesa e a evolução das suas empresas implica que o mercado para equipamento industrial tenha uma tendência crescente, o que é um factor a aproveitar. Entre as indústrias portuguesas que poderão encontrar mercados nesta área são as de moldes, peças para máquinas, máquinas e aparelhos e cortiça.

Por outro lado, o aspecto da imagem dos produtos europeus ou norte-americanos começa a assumir na China um certo peso, dado que na sociedade chinesa o estatuto tem uma enorme importância. Os consumidores chineses com algum poder de compra procuram as marcas ocidentais conhecidas. Exemplos de sectores que se encontram neste caso são o vestuário, o calçado, a joalharia, os automóveis e os bens de luxo em geral. Na construção, a utilização de materiais de origem europeia tem peso no preço dos imóveis. Indicam-se algumas indústrias portuguesas que podem encontrar mercado nesta área: têxteis, calçado, vinho, mobiliário e artigos para o lar e ainda materiais de construção. Em relação ao consumidor particular, a classe média emergente e o crescimento do poder de compra têm impulsionado o retalho, com grandes empresas norte-americanas e europeias a abrirem centenas de lojas, cada vez mais procuradas pelo consumidor chinês. Há cinco anos atrás esperava-se que a China se apresentasse como grande concorrente internacional do Japão no segmento de marcas de luxo. Em 2012, o Japão já tinha sido ultrapassado pela China. Existiam previsões em que no princípio desta década deveria atingir 250 milhões o número de chineses potenciais consumidores de marcas de luxo. Há menos de dez anos (2009) as 100 principais marcas de luxo do mundo tinham aberto cerca de 1340 lojas na China em 44 cidades. Refira-se por fim que o comércio digital (Inboud Marketing, Smarketing, etc.) terá um lugar importante neste cenário. Quem produz marcas de prestígio em Portugal pode e deve experimentar o destino China.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

PMEs Exportadoras - Conhecer melhor a China antes de começar a exportar

Exportar para a China já não faz parte do antes, mas do agora e do futuro. Para isso o empresário de PME tem que conhecer o mercado. Claro que conhecer o mercado não é propriamente visitá-lo, isso seria turismo, ou mesmo ir apenas numa ou duas missões comerciais para contactos programados em que as empresas do lado de lá só dizem o que querem. Claro que as missões comerciais, com o governo a abrir portas essenciais, são um trabalho necessário, mas não chega. As dicas sintéticas são também essenciais nas leituras e não somente para ler à pressa no avião. Mas não estamos a falar só de características gerais, pois sabemos qual o idioma que se usa, o Mandarim, embora a língua mais ouvida, por exemplo, em Xangai seja o Wu (Xangainense) e em Hong Kong seja o Yue (Cantonês). Mesmo a língua escrita oficial é complementada pela escrita local nalgumas províncias. A população tem também uma aparência física diferente (estatura, etc) de Leste para Oeste ou de Sul para Norte, porque a dimensão do território é enorme. Outro aspecto geral é que o maior poder de compra está nas províncias do litoral e menos nas do interior.

Em termos económicos, todos sabemos que a China vem há muitos anos acumulando crescimentos do PIB enormes, mais recentemente com desacelerações, devido ao impacto da crise. Prevê a EIU (Economist Intelligence Unit) que de 7,7% em 2013 e 7,2% em 2014, o incremento do PIB deverá reduzir-se para 6,4% em 2017 e 6% em 2018. Mas conhecer o mercado não é apenas saber que está a crescer, que todos pensam vender para lá e tentam descobrir o que se pode vender, porque num mercado daquela dimensão, que actualmente produz quase tudo, sobretudo imitando o que se faz no Ocidente para vender para cá mais barato, com qualidade inferior mas suficiente para uma população de classes médias que presentemente, em países em crise, procura o mais barato, conhecer o mercado (escrevia eu) é de algum modo estudá-lo.

Vender para a China envolve conhecer, logo à partida, se o produto está adequado ao mercado ou necessita adaptação, o que frequentemente acontece, sobretudo quando se trata de um produto de consumo corrente e que tem de se adaptar às necessidades e gostos locais. Logo a seguir haverá que estudar e decidir qual a forma de entrada no mercado e, frequentemente, tratar de defender a propriedade da marca, o que passa por admitir a possibilidade de fazer uma "joint-venture", ou optar por um "franchising". O aspecto mais importante é o legal, sendo necessário obter apoio de um advogado.

Mas a China tem imensas oportunidades por três razões principais: (1) As classes médias estão em expansão; (2) O estatuto social na China tem importância nas decisões de compra de certos grupos de consumidores; (3) O consumidor chinês está há muitos anos aberto aos produtos ocidentais por os considerar de boa qualidade; (4) Começam a existir empresas chinesas que optam, em certos casos, por equipamentos ocidentais pela qualidade de fabrico.

Abordemos agora o aspecto importante da moeda e do ambiente mais favorável ou menos favorável às importações chinesas. Em relação à moeda - Renminbi - um aumento forte nas reservas em moeda estrangeira na segunda metade de 2013, sugere que a moeda ficará sob pressão para uma apreciação em valor. A EIU prevê que a moeda se valorizará contra o dólar durante 2014-17, em 1,2%, e a apreciação contra o euro será mais suave e o mesmo contra o yen. O banco central chinês continuará a intervir para abrandar a volatilidade. No entanto, essa volatilidade deverá mesmo assim existir nos próximos anos, por vezes com depreciações. Dado o facto de se prever que a balança corrente da China será deficitária em 2017, a EIU prevê que o Renminbi enfraquecerá ligeiramente contra o dólar em 2018. Como atrás se referiu, a EIU prevê que a balança corrente chinesa passará de um excedente em 2013 (1,9% do PIB) para um défice em 2018 (-0,9% do PIB). As exportações chinesas em valor deverão crescer cerca de 8,9% em 2014-18, uma expansão inferior à da década anterior (devido à erosão da competitividade dos preços chineses). Refira-se que uma grande proporção das importações chinesas (e isto importa saber) é constituída por componentes que são montados localmente, antes de embarcarem para o exterior. É claro que, deste modo, as importações e as exportações tendem a crescer a taxas semelhantes. Todavia, grande parte das importações destinam-se ao consumo interno. Em consequência (parcial) o crescimento das importações de mercadorias deverá ultrapassar a expansão das exportações durante 2014-18: as importações de bens deverão crescer a 11,2% ao ano, o que é um aspecto importante a fixar.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Macau - PMEs portuguesas não podem esquecer este mercado

Macau entrou praticamente neste milénio directamente para a administração da República Popular da China (em Dezembro de 1999), mas todos sabemos que esteve sob administração portuguesa durante mais de quatrocentos anos. Dado este facto, o presente sistema legal foi delineado para que houvesse uma certa sobrevivência das estruturas política, económica e social estabelecidas sob a administração portuguesa. O outro aspecto de relevo neste mercado é o facto de a língua portuguesa ser um idioma oficial, em simultâneo com a língua chinesa (cantonês).

O Chefe de Estado de Macau é o da República Popular da China (Xi Jinping), mas o território tem um chefe executivo próprio, actualmente Fernando Chui (desde Dezembro de 2009), devendo as próximas eleições ter lugar no final de 2014. A título de curiosidade refere-se que o nome oficial de Macau é o de Região Administrativa Especial de Macau, da República Popular da China. As relações internacionais de Macau estão subordinadas ao governo da China, contudo a administração de Macau tem autoridade sobre os assuntos internos e externos em relação ao comércio, como o de ser membro da Organização Mundial do Comércio.

Desde há vários anos, a economia de Macau apresenta enormes crescimentos, o último dos quais (de 2012 para 2013) foi de 14,1%. O motor do crescimento óbvio é o Jogo, sobretudo desde que, no início dos anos 2000, terminou o monopólio de quatro décadas de Stanley Ho. Isto conduziu à instalação de Casinos originários dos EUA, o que tem contribuído para atrair um grande número de turistas da China, sobretudo para o Jogo. A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que o crescimento de 2014 para 2015 deverá ser de 12,3%, sendo o motor do crescimento as exportações de bens e serviços. Isto pode reflectir o contínuo fluxo de turistas da China atraídos pelos Casinos de Macau, o que está a impulsionar a actividade económica em projectos de investimento na área do Jogo. Também da EIU é a previsão de que, embora se esteja a verificar um grande desenvolvimento da actividade do Jogo noutras partes da Ásia, o que pode colocar riscos a esta previsão, entende a EIU que Macau deverá continuar proeminente nesta actividade, dentro da região asiática.

A balança comercial de Macau é caracterizado por um grande défice comercial que tem aumentado desde 2009; a mesma tendência será provável para 2014-2015. Esta evolução deve-se à fuga da indústria transformadora de Macau para a China continental, onde os custos laborais são mais baixos e os terrenos mais baratos. A redução das exportações de mercadorias tem contribuído para a contínua deterioração na posição da balança comercial do território. Contudo, a balança corrente compensa porque está excedentária e assim continuará em 2014-2015, devido ao enorme superavit na balança de serviços, relacionada com a actividade do Jogo e as receitas do Turismo.

Macau, dada a influência que Portugal exerceu no território enquanto o administrou, e sobretudo pelas raízes que aí deixou, nomeadamente a língua portuguesa, muita arquitectura (monumentos e habitações) e bases cultural, legal e social, pode ser adoptada como porta de entrada para certos negócios portugueses, mas nem todos. Para negócios ligados aos serviços, Macau afigura-se uma acessibilidade, mas para introdução de produtos, só nos casos relacionados com as actividades que se encontram em fase de crescimento, nomeadamente a exportação de máquinas e equipamentos para os sectores de hotelaria, restauração e área do entretenimento, e claro o sector do Jogo.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

China e PMEs exportadoras - Como será o futuro?

Conhecemos a China longínqua, mas sentimo-la cada vez mais perto de nós, pelas boas e más razões, ou para ser mais correcta, pelos motivos mais óbvios e pelos mais ignorados. Os que se notam mais desde há muitos anos são as lojas chinesas, as imitações de tudo o que se vende no Ocidente, os preços baixos, os chineses propriamente ditos (trabalhadores inveterados) mas também, há menos anos, é bem conhecida a entrada em Portugal dos grandes investimentos chineses. Do mesmo modo, quase todos os portugueses, através da comunicação social, sabem que a China se tornou uma das maiores economias do mundo, quando até agora era apenas o país mais populoso. Acresce que, também algumas empresas exportadoras portuguesas estão já a vender para a China, seja em início de exportação, seja em planos para futuramente exportar. Tudo isto se passa, mas torna-se cada vez mais necessário conhecer melhor um mercado que há já várias décadas está a ser trabalhado por multinacionais norte-americanas e europeias, através de marcas bem conhecidas, desde automóveis até produtos de higiene e cosméticos. Os estudos que se fizeram para penetrar naquele mercado são difíceis de conhecer, mas os percursos das principais marcas são mais evidentes e mostram seguramente que o mercado é como qualquer outro, ou seja, tem aspectos gerais, em que os consumidores revelam comportamentos semelhantes a qualquer consumidor do mundo, e tem aspectos específicos e locais, como qualquer mercado local, e que devem ser conhecidos, antes de se pensar em penetrar naquele país. Claro que a entrada no mercado também tem de ser planeada consoante a indústria em questão.

Refira-se que uma grande empresa de estudos e auditoria sediada em Londres (Ernst and Young) prevê que daqui a quinze anos (cerca de 2030) aproximadamente dois terços da população mundial de classe média estarão na Ásia-Pacífico, sobretudo na China. Presentemente com 150 milhões de consumidores de classe média, a China poderá ter mil milhões, o que representa um mercado enorme para as empresas norte-americanas e europeias. Actualmente, o mercado chinês representa para as empresas norte-americanas à volta de 250 mil milhões de dólares. Ou seja, apostar no mercado chinês não é utopia, mas sim uma previsão baseada em dados actuais.

Presentemente, a estabilidade política é evidente, com a entrada em funções do presidente Xi Jinping em Março de 2013; após a posse, tornou-se um líder de confiança, com maior autoridade no partido do que qualquer anterior liderança, desde Deng Xiaoping (1978-1992). O primeiro-ministro, Li Keqiang, tem estado relativamente apagado com a sombra do presidente Xi, mas parece acompanhar a agenda do presidente e está provavelmente a ter um papel importante na definição e execução da política. A campanha anti-corrupção deverá dar ao presidente um instrumento poderoso como aviso a dissidências dentro do partido. Essa campanha já levou a demissões de algumas figuras seniores nas empresas estatais (segundo a Economist Intelligence Unit - EIU).

A grande fonte de influência da China na situação global consiste no desejo dos governos estrangeiros e empresas do exterior conseguirem tirar partido do enorme mercado interno chinês e também de atrair o investimento da China para os respectivos países.

A economia chinesa cresceu 7,7% em 2013, apoiada por um pacote de mini-estímulos a grandes investimentos que o governo lançou em meados do ano. Como a campanha do governo contra despesas públicas extravagantes começou a ser mais moderada, o crescimento do consumo (tanto público como privado) deverá acelerar em 2014. O desempenho das exportações chinesas será também melhor, à medida que se fortalecer a procura externa, sobretudo nos EUA e na UE. Contudo, as condições restritivas do crédito provavelmente farão abrandar o crescimento do investimento em 2014. A previsão da EIU para o crescimento económico em 2014 é de 7,2%. As previsões de incremento para as exportações de bens e serviços em 2014 é de 7,5% e em 2015 de 7,6%. Quanto às importações de bens e serviços, estas crescerão 7,9% em 2014 e 8,3% em 2015. Verifica-se, assim, que a China continuará a ser um grande exportador mundial e também um grande importador. Neste caso, o crescimento irá mesmo acelerar de 2014 para 2015.

Ora são estes números do crescimento das importações chinesas que as PMEs exportadoras portuguesas deverão olhar se querem pensar ou continuar a pensar na China. O mercado tem espaço, a questão é saber quais os produtos ou grupos de produtos que mais interessam à economia chinesa e ao consumidor chinês.

As oportunidades existem sobretudo nas regiões com maior poder de compra que se encontram nas províncias do litoral, desde Guangdong a Liaoning e menos nas províncias do interior. As regiões mais ricas são Guangdong, Zhjiang, Xangai, Pequim e Tianjin. Como a China se encontra num processo de construção de infra-estruturas, considerado único a nível mundial pela sua dimensão, existem oportunidades nas áreas de transportes quer ferroviários quer rodoviários (equipamentos, etc.), na energia, na habitação, podendo as empresas portuguesas considerar hipóteses na internacionalização nestes sectores. Na área dos serviços, o envelhecimento da população tem impulsionado os sectores relacionados com cuidados de saúde, mas o aumento do nível de vida está a ter impacto nas áreas de restauração e entretenimento. Os serviços às empresas e o sector bancário (dada a gradual liberalização neste país) são também áreas com oportunidades. Na área do turismo, o crescente poder de compra e a diminuição das restrições aos movimentos de pessoas, estão a favorecer as saídas de turistas chineses, mas a popularização da China como destino turístico também se verifica. Há muitos anos que muitos portugueses viajam para a China em turismo.

Exportar de Portugal para a China é um fenómeno que existe, mas tem pouco significado. No entanto, referem-se os principais grupos de produtos exportados (fonte: Aicep): máquinas e aparelhos são os principais, com menor expressão seguem-se os minerais e minérios, os metais comuns, a madeira e cortiça e os produtos químicos.

Os aspectos da qualidade e da imagem são essenciais para as empresas ocidentais exportarem para a China, dado que este país consegue produzir quase tudo a custos muito inferiores aos das empresas ocidentais. Assim, estas são consideradas as vantagens competitivas. Na qualidade, nota-se que as grandes empresas chinesas já investem em máquinas de origem norte-americana ou europeia se estas trouxerem vantagens em termos de qualidade de produção. Existem muitos exemplos neste sentido. A Aicep indica que, entre as indústrias portuguesas que poderão procurar mercado nesta área encontram-se as de moldes, peças para máquinas, máquinas e aparelhos e cortiça. Quanto à imagem, sabe-se que na sociedade chinesa o estatuto assume uma particular importância, pelo que os consumidores chineses com algum poder de compra procuram as marcas ocidentais conhecidas. Isto porque os chineses dessa categoria sabem que os produtos de marca têm preço mais elevado e que o público se apercebe disso, sendo esta a razão porque os preferem. Esta situação pode suceder ou vir a suceder com produtos portugueses de certos sectores, como por exemplo, têxteis, calçado, vinho, mobiliário, artigos para o lar e materiais de construção. Os sectores indicados são os que têm maior potencial de exportação para a China, mas a qualidade e a imagem têm de ser considerados aspectos-chave nos produtos a exportar.