domingo, 14 de agosto de 2011

O "rating" dos EUA e os mercados internacionais

Agora que a Standard & Poor's baixou recentemente o "rating" dos EUA de AAA para AA+, vale a pena analisar a situação que, esta sim, vai ter grande influência a curto, médio e tavez longo prazo sobre todos os mercados internacionais. A baixa do "rating" por si só não terá assim tanto significado, mas ela reflecte uma realidade dos EUA que há muito se vem verificando. A economia norte-americana está numa fase lenta de crescimento, com os últimos dados muito desanimadores. O Departamento de Comércio daquele país relatou que o crescimento real do PIB foi de apenas 1,9% no 1º trimestre de 2011, abaixo dos 3,1% do último de 2010. O andamento do 2º trimestre deste ano foi certamente também bastante fraco. As vendas a retalho recuaram 0,2% em Maio e o Departamento do Comércio fez uma revisão em baixa dos ganhos obtidos em Abril. O índice de confiança dos consumidores recuou muito.



A queda no mercado imobiliário, neste momento, rivaliza com a que existia na Depressão dos anos 1930. Muitos analistas consideram que grande parte desta fraqueza da economia reflecte factores temporários, tais como os elevados preços da gasolina, as más condições climáticas nos EUA e ainda as consequências do desastre natural no Japão. Consideram, portanto, que a previsível redução dos preços da gasolina e o regresso de condições climáticas normais aos EUA e Japão, deverão proporcionar uma aceleração do crescimento. Mas consideram também que existem outros factores no terreno que poderão provocar uma fraqueza mais longa. Para além da crise no mercado imobiliário, as políticas de apoio não estão a ajudar. A focalização do Congresso no teto da dívida deixou ficar para trás o estímulo fiscal, qque foi um motor significativo no crescimento de 2009 e 1010. De facto, o foco no debate sobre o teto da dívida federal está a prejudicar (e já prejudicou) a confiança na economia.



Entretanto, a aprovação no Congresso do compromisso sobre o aumento do teto da dívida foi um alívio e a bancarrota iminente foi evitada, mas o perigo da recessão mantém-se. Refira-se que o abrandamento do crescimento dos EUA já vem de há muitos anos. Caiu de mais de 4% em média anual nas décadas de 1950 e 60 para 3,1% no decénio de 1990 e 1,4% nos anos 2000, com uma grande recessão no final dessa década. O crescimento de 2011, conforme os dados apontados atrás, indiciam a continuação do abrandamento. O que é que isto pode significar? Entre outros aspectos, aponta-se um dos principais: a economia mundial está a mudar de ritmo de crescimento e também a mudar a focalização, até agora muito baseada nas economias industrializadas do Ocidente, para uma maior focalização nas economias emergentes que durante muito tempo foram consideradas de terceiro e segundo mundo, terminologia que já está nestes casos ultrapassada. Em suma, as empresas portuguesas exportadoras já entenderam que, para assegurarem a expansão ou, no mínimo, a sobrevivência, têm que diversificar os seus mercados de destino, nomeadamente mercados menos tradicionais fora da Europa Ocidental. A este assunto voltarei em próximo artigo.

Sem comentários: