sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O consumismo pode ser objectivo de vida?

Depois da segunda guerra mundial (portanto em meados do século XX), a forma de consumir era ainda muito normal. As economias da Europa reconstruíram-se, recomeçaram a crescer e, pese embora as crises petrolíferas nos anos 1970, as empresas de todas as dimensões, mas sobretudo as grandes, envolveram-se no marketing internacional já então sofisticado. As multinacionais desenvolveram-se de imediato na América do Norte, na Europa e no Japão. O acto de consumir passou gradualmente a constituir e até extremar-se no que se chamou de "consumismo". Esta evolução foi gradual e, ao mesmo tempo, para muita gente foi insidiosa. Esta palavra é terrível, mas estou a aplicá-la porque o consumismo, que para as empresas que querem crescer é benéfico, acabou por se tornar uma importante causa da transformação das nossas sociedades e origem de muitos dos seus problemas actuais. Se não, vejamos muito resumidamente: as empresas passaram a utilizar estratégias de marketing sofisticadas para atrair consumidores; a publicidade ultrapassou frequentemente os seus limites éticos; a criação de marcas transformou o tipo de consumo; as marcas e a imagem de marca passaram a ser usadas pelos consumidores para reflectir a própria imagem que pretendiam aparentar; o sector financeiro entrou em cena financiando o consumo dos compradores e das empresas, em todos os ramos de actividade. Acresce que muita gente perdeu gradualmente alguns dos seus valores mais nobres e substituíram-nos por uma atitude mais materialista de querer possuir as coisas que as empresas vendiam, não só para satisfação das necessidades de natureza básica, mas também, como é natural, das suas necessidades e desejos de outra natureza (estatuto, alienação, ordem cultural, ordem afectiva, "ganância", etc. etc.). As necessidades eram satisfeitas, as empresas vendiam, todos lucravam. Criavam-se novas necessidades, produziam-se mais bens, que até se exportavam para outros países, o que era bom para as economias. Pensando bem, parece que não estou de acordo com o actual tipo de actividade económica que utiliza muito o marketing. De facto, não é isso de modo nenhum e vou explicar porquê. Existem razões importantes para que a actual situação da Europa esteja em crise e elas têm sido publicamente debatidas a todos os níveis. Essas razões não têm nada a ver com o marketing e a publicidade ou com a criação de marcas que, insisto, as PME portuguesas devem utilizar na sua actividade interna e no exterior. Essas razões, para além daquelas relacionadas com a financeirização das economias, com a evolução natural das sociedades, e ainda de todas as outras razões de natureza económica e de política económica e social, de natureza demográfica, de natureza política e de outras razões que são frequentemente debatidas na comunicação social, essas razões, dizia eu, residem no elevado consumismo que inundou as nossas sociedades e as nossas cabeças. Agora que a crise se instalou e que irá durar alguns anos, teremos que reeducar-nos, mas claro está que estão a surgir novas estratégias para as empresas continuarem a vender, uma delas, que está já radicada, é a do "low cost". Voltarei a este tema, mas desde já pergunto: será que o consumismo é quase o objectivo de vida para muita gente?

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