domingo, 17 de julho de 2016

Pensar em Novos Mercados Externos - China?

Conhecemos a China longínqua, mas sentimo-la cada vez mais perto de nós, pelos motivos mais óbvios e pelos mais ignorados. Os que se notam desde há muitos anos são as lojas chinesas, com as imitações de tudo o que se vende no Ocidente, os preços baixos, os chineses que vemos por detrás dos balcões nas lojas chinesas, e também, cada vez mais, encontramos turistas chineses em Lisboa. Porém, há menos anos temos verificado que começa a ser conhecida a entrada em Portugal de grandes investimentos chineses. Do mesmo modo, quase todos os portugueses, através da comunicação social, sabem que a China se tornou a 2ª maior economia do mundo (1ª - EUA), quando até há poucos anos era apenas o país mais populoso. Acresce que, algumas empresas exportadoras portuguesas estão já a vender para a China, seja em início de exportação, seja com planos para futuramente exportar. Tudo isto se passa, mas torna-se cada vez mais necessário conhecer melhor um mercado que há já várias décadas está a ser trabalhado por multinacionais norte-americanas e europeias, através de marcas bem conhecidas, desde automóveis até produtos de higiene e cosméticos. Os estudos que se fizeram para penetrar naquele mercado são difíceis de conhecer, mas os percursos das principais marcas são evidentes e mostram que o mercado, sendo de aproximação difícil, é também como qualquer outro, porque tem aspectos gerais, em que os consumidores revelam comportamentos semelhantes a qualquer consumidor do mundo, e tem aspectos específicos e locais, até por se tratar do continente asiático, aspectos que devem ser conhecidos, antes de se pensar em entrar naquele país. Claro que a entrada no mercado também tem de ser planeada consoante a indústria em questão.

Refira-se que uma grande empresa de estudos e auditoria sediada em Londres (Ernst and Young) prevê que daqui a quinze anos (cerca de 2030) aproximadamente dois terços da população mundial de classe média estarão na Ásia-Pacífico, sobretudo na China. Presentemente com 150 milhões de consumidores de classe média, a China poderá ter mil milhões nessa altura, o que representa um mercado enorme para as empresas norte-americanas e europeias. Actualmente, o mercado chinês representa para as empresas norte-americanas à volta de 250 mil milhões de dólares. Ou seja, apostar no mercado chinês não é utopia, mas sim uma previsão baseada em dados actuais.

Presentemente, mantém-se a estabilidade política na China, desde a entrada em funções do presidente Xi Jinping em Março de 2013; após a posse, tornou-se um líder de confiança, com maior autoridade no partido do que qualquer anterior liderança, desde Deng Xiaoping (1978-1992). O primeiro-ministro, Li Keqiang, tem estado relativamente na sombra do presidente Xi, mas parece acompanhar a agenda do presidente e está provavelmente a ter um papel importante na definição e execução da política.

A China tornou-se gradualmente a 2ª maior economia e a sua grande fonte de influência na situação global consiste no desejo dos governos estrangeiros e empresas do exterior pretenderem tirar partido do enorme mercado interno chinês e também atrair o investimento para os respectivos países. As perspectivas da China têm neste momento apenas um aspecto menos positivo, muito recente, sendo a origem do problema a questão levantada pela situação daquele país face ao Mar da China Meridional, como veio noticiado na comunicação social.

A economia chinesa teve um enorme crescimento nos últimos 25 anos (10% ao ano mais ou menos), mas começou a desacelerar nos últimos anos e em 2016 prevê-se que cresça 6,5%. Em 2013 (ano em que o presidente Xi entrou em funções) o crescimento tinha ainda sido superior a 7%, apoiado por um pacote de mini-estímulos a grandes investimentos que o governo lançara em meados daquele ano. Como a campanha do governo contra despesas públicas extravagantes passou a ser mais moderada, o crescimento do consumo (tanto público como privado) começou a desacelerar. O desempenho das exportações chinesas será também melhor, à medida que se fortalecer a procura externa, sobretudo nos EUA. Contudo, as condições restritivas do crédito provavelmente farão abrandar o crescimento do investimento. Verifica-se, porém, que a China continuará a ser um grande exportador mundial e também um grande importador.

Ora, são estas perspectivas do crescimento das importações chinesas em que as PMEs exportadoras portuguesas deverão pensar se querem contar com o mercado chinês. Ele tem espaço, a questão é saber quais os produtos ou grupos de produtos que mais interessam à economia chinesa e ao consumidor chinês.

As oportunidades existem sobretudo nas regiões com maior poder de compra que se encontram nas províncias do litoral, desde Guangdong a Liaoning e menos nas províncias do interior. As regiões mais ricas são Guangdong, Zhjiang, Xangai, Pequim e Tianjin. Como a China se encontra num processo de construção de infra-estruturas, considerado único a nível mundial pela sua dimensão, existem oportunidades nas áreas de transportes quer ferroviários quer rodoviários (equipamentos, etc.), na energia, na habitação, podendo as empresas portuguesas considerar hipóteses na internacionalização nestes sectores. Na área dos serviços, o envelhecimento da população tem impulsionado os sectores relacionados com cuidados de saúde, mas o aumento do nível de vida está a ter impacto nas áreas de restauração e entretenimento. Os serviços às empresas e o sector bancário (dada a gradual liberalização neste país) são também áreas com oportunidades. Na área do turismo, o crescente poder de compra e a diminuição das restrições aos movimentos de pessoas, estão a favorecer as saídas de turistas chineses, mas a popularização da China como destino turístico também se verifica. Há muitos anos que muitos portugueses viajam para a China em turismo.

Exportar de Portugal para a China é um fenómeno que existe, mas tem pouco significado. No entanto, referem-se os principais grupos de produtos exportados (fonte: Aicep): máquinas e aparelhos são os principais, com menor expressão seguem-se os minerais e minérios, os metais comuns, a madeira e cortiça e os produtos químicos.

Os aspectos da qualidade e da imagem são essenciais para as empresas ocidentais exportarem para a China, dado que este país consegue produzir quase tudo a custos muito inferiores aos das empresas ocidentais. Assim, estas são consideradas as vantagens competitivas. Na qualidade, nota-se que as grandes empresas chinesas já investem em máquinas de origem norte-americana ou europeia se estas trouxerem vantagens em termos de qualidade de produção. Existem muitos exemplos neste sentido. A Aicep indica que, entre as indústrias portuguesas que poderão procurar mercado nesta área encontram-se as de moldes, peças para máquinas, máquinas e aparelhos e cortiça. Quanto à imagem, sabe-se que na sociedade chinesa o estatuto assume uma particular importância, pelo que os consumidores chineses com algum poder de compra procuram as marcas ocidentais conhecidas. Isto porque os chineses dessa categoria sabem que os produtos de marca têm preço mais elevado e que o público se apercebe disso, sendo esta a razão porque os preferem. Esta situação pode suceder ou vir a suceder com produtos portugueses de certos sectores, como por exemplo, têxteis, calçado, vinho, mobiliário, artigos para o lar e materiais de construção. Os sectores indicados são os que têm maior potencial de exportação para a China, mas a qualidade e a imagem têm de ser considerados aspectos-chave nos produtos a exportar.

Finalmente, chama-se a atenção para o facto de existir um importante projecto no ISEG, que pretende apoiar as empresas e instituições portuguesas a ultrapassar a difícil aproximação ao mercado chinês. É o China Logus, cuja imagem se encontra ao lado.

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